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Título: O ritual
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 17/05/2008
 

Ontem uma estudante de jornalismo, a Mayra, propôs realizar – ela e seu grupo – uma reportagem sobre o sincretismo religioso. Queria partir dos 100 anos da Umbanda a se reverenciar neste 2008. Mas, as comemorações oficiais, não sei se é bem este o termo, só vão acontecer em novembro, e não há qualquer programação confirmada. Em termos jornalísticos, ficamos – eu, como professor-orientador – à deriva. O jornal dos estudantes, o trintão Rudge Ramos Jornal, sai de quinze em quinze dias. Portanto, há assuntos mais prementes em São Bernardo a merecer atenção, neste momento.

Mesmo assim, continuamos nossa conversa sobre o tema para uma reportagem especial. Esticamos a reunião de pauta e o assunto até chegarmos em um caminho a ser explorado pelos três estudantes. Vão falar sobre o sincretismo religioso e cultural como as distintas etnias aqui presentes preparam um terreno fértil e propício para a fusão das mais diversas crenças.

É um assunto delicado, mas interessante.

Lembrei de um rapaz espanhol, Manolo, lá dos tempos do Cambuci. Era mais velho que eu e jogava no ‘esporte’ do República, um dos mais famosos times de várzea da região. Era goleiro e, toda vez que entrava no campo gramado do Estádio Distrital do Parque da Aclimação, fazia um ritual meio estranho. Fechava a mão direita e socava o ar várias vezes.

Um dia alguém lhe perguntou se era uma supertição.

Ele disse não.

Seria uma forma de oração?

Uma reverência aos santos?

Não e não.

Na verdade, nem ele sabia bem o que representava aquele gesto. Era uma coisa de família. Veio com o pai e com os avós de alguma aldeia espanhola. Descobrimos depois, ainda que muito por alto, que era uma tradição de antigos povos locais. Um pedido de proteção a forças que não conseguimos descobrir.

Houve quem debochasse do Manolo. Houve quem achasse estranho. Até que numa manhã de domingo, o espanhol jogou muito, fechou o gol – e justamente num célebre clássico, entre Triângulo e República, que fazia tremer o Parque toda vez que se enfrentavam.

Acho que nunca ouvi tantas vezes a frase:

“Eu não acredito em bruxas, mas que existem, existem”.

No domingo seguinte, quando nós, os meninos que jogávamos antes dos times adultos, entramos em campo, adivinhem qual foi a cena mais repetida? Uns mais contidos, alguns mais escachados, outros fingindo uma certa indiferença – mas, creiam, todos nós demos nossos soquinhos para o ar que não acreditávamos em bruxas e tal, mas... uma forcinha extra nunca é demais.

 
 
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