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Título: As três imagens
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 18/05/2008
 

Ainda sobre a conversa de sexta que rendeu o post de ontem e, creio, o de hoje também. É porque, a certa altura daquele papo, a Mayra fez uma abordagem interessante que me fez lembrar uma história antiga que eu vivi.

Eu disse que prova do tal sincretismo religioso são os santos que são reverenciados no catolicismo e no candomblé. A estudante me interrompeu para esclarecer que, na verdade, são entidades diferentes. A representação, sim, é comum. São Jorge representa Ogum e Santa Bárbara é (e não é) Iansã.

Mas, há uma explicação.

No tempo da escravidão, os negros eram obrigados a se converter ao catolicismo pelos senhores brancos. Que inclusive construíam capelas onde os escravos poderiam orar. No interior dessas igrejinhas, as imagens dos santos ocupavam a parte de cima dos altares. Já as figuras representativas das crenças que os negros trouxeram da África eram enterradas, em segredo, sob a base desses oratórios.

Vem daí essa, digamos, fusão.

Vem daí também a tradição do católico rezar olhando para cima, invocando as bênçãos do santo que está sobre o altar. Enquanto isso, os seguidores do candomblé e outras afro-religiões oram sempre, contristados, olhando para o chão.

A explicação da estudante, como disse, me trouxe a mente uma história que vivi lá pelo início dos anos 90. Não lembro por quais motivos, acabei indo a uma dessas sessões de candomblé. Não conhecia como a coisa toda funciona, por isso fiquei mais do que na minha. Havia uma dezena de pessoas ali. Gente de todas as idades e, diria, dos mais diversos segmentos sociais. O senhor incorporou não-sei-quem e depois outro “caboclo” e mais outro e esses tais conversavam com as pessoas uma a uma. Até que num dado momento o homem me chamou e disse se eu precisava de alguma coisa. Sim, porque eu estava ali por algum motivo que agora eu não lembro, mas que também não vem ao causo.

Eu me lembro claramente que, antes que eu respondesse, o tal “caboclo” disse para eu olhar bem que sobre aquela mesa havia três estátuas que me eram muito próximas.

A primeira foi simples reconhecer.

São Jorge. Mesmo palmeirense até o último fio de cabelo, sou devoto do santo desde criancinha – aliás, leiam a crônica Salve Jorge, postei em 23 de abril de 2007 e vão entender melhor essa devoção.

A segunda?

Iansã que representa a Rainha dos Mares e, no catolicismo, é Santa Bárbara.

Por quê?

Nasci em 4 de dezembro, dia de Santa Bárbara.

E a terceira...

Pensei comigo mesmo:

Peguei o cara. Nada aí tem a ver comigo.

Olhei que olhei para o altar.

De repente, me vi criança – quatro ou cinco anos – a brincar com uns carrinhos de plásticos. Eu os enfileirava no chão da sala da velha casa da rua Muniz de Souza. Fazia uma espécie de congestionamento. Aí aparecia um boneco, sei lá onde arranjei. Em minhas mãos se transformava no guarda de trânsito e rapidamente colocava ordem naquela bagunça. O boneco vestia um terno amarelo, um chapéu e uma gravata vermelha. Tinha uma cara malandra. Eu o chamava de Jeremias.

Ali, na mesa, o terno era branco. O chapéu e a gravata vermelha. A mesma cara malandra. O chamam aqui de Zé Pilintra.

Eu, hein! Não voltei mais lá – e termino essa história por aqui...

 
 
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