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Pardal

Por Vanessa Schultz

Quando eu era criança, tia Renata costumava caminhar conosco, meus irmãos e eu, pelas ruas do bairro onde morávamos. Em uma dessas caminhadas, minha tia me perguntou qual animal eu gostaria de ser, se isso fosse possível. Eu disse que seria um passarinho. Mas não um passarinho qualquer. Gostaria de ser um pardal porque não me prenderiam na gaiola. Talvez tenha dito isso porque meu pai gostava de passarinhos engaiolados, que enfeitavam um paredão no quintal lá de casa. Eu não devia gostar muito de ouvir os passarinhos cantarolar histórias nostálgicas da época em que eram livres.

Coincidentemente, Aninha sempre me chama de passarinha quando menciono outra mudança. Mudei-me novamente e de novo fui chamada de passarinha. Então, lembrei-me da pequena história acima.

Dessa vez, voei para céu escocês. Céu de nuvens pesadas que se misturam com o azul. Céu por onde quatro estações passam em apenas um dia. Céu de nuvens levadas constantemente por um vento frio e forte do Mar do Norte.

Edimburgo, capital da Escócia. Para aqueles que não a conhecem, é cidade de gente misturada, de raças e línguas diversas, em uma escala menor do que Londres. Mistura de cidade grande e vilas escondidas. Cidade de bares e discotecas, onde já é proibido fumar.

Ainda na mesma ilha, mas outro país. Terras de pessoas que lutaram contra a invasão inglesa. A amargura dos tempos de domínio ainda permanece nos corações escoceses, os quais ainda buscam independência. Conseguiram o parlamento próprio apenas na década de 90.

Aluguei um pequeno apartamento em um distrito chamado Gorgie. Da janela, vejo as nuvens carregadas, um linha de trem, pela qual passam vagões de carga, prédios antigos, algumas árvores, uma destilaria e o pôr do sol. Dos filtros da destilaria, vapores são eliminados 24 horas por dia. Por causa disso, os ares da cidade cheiram a malte. Cheiro suave e doce levado pelos ventos até as narinas, não importa se estiver nas ruas ou olhando o céu pela janela do apartamento.

No sábado, meu segundo dia aqui, encontrei o Museu dos Escritores, uma casa em uma esquina da cidade velha. O museu é uma homenagem aos três escritores mais famosos da Escócia: Sir Walter Scott, Robert Louis Stevenson e Robert Burns.

Estou maravilhada com as surpresas encontradas em vielas. Estou feliz. Sei que ainda irei encontrar o inevitável de qualquer migração: alegria e tristeza, realizações e decepções, encontros e desencontros, beleza e feiúra. E sempre saudade e busca do melhor lugar para construir o meu ninho.

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