Ele viveu numa época em que racismo não era crime, era lei. Usou a paz não para evitar uma guerra, mas para enfrentá-la. Entrou para história não só pelo que fez, mas também pelo que sonhou. Sonhou o que, até hoje, continua como sonho: um mundo em que a cor da pele não tenha importância.
Quando o presidente John Kennedy foi assassinado, em 1963, Martin Luther King Jr. pressentiu que morreria daquele mesmo jeito. Cinco anos depois, assim como Kennedy, ele foi morto por um franco atirador, no dia 4 de abril de 1968, em Memphis, Tennessee.
Fantástico – 01.04.2018
(…)
Senta que lá vem uma das minhas histórias nada a ver…
Tinha 18, 19 anos, acabara de me livrar de servir o glorioso Exército nacional.
Livre?
Nem tanto.
A família botava uma pressão daquelas sobre os meus velhos para que eu arranjasse um trabalho.
Uma baita marmanjo – e só estudava. Uma heresia para os ditames familiares.
(…)
Nessa toada percorri uma penca de empresas atrás de batente.
Numa dessas peregrinações, soube que o Banco Português do Brasil, ali na avenida Paulista, abriria concurso para escriturários. Eu preenchia quase todos quesitos. Arranhava uma datilografia, segundo grau completo, bons conhecimentos gerais e cousa e lousa e mariposa.
Lá fui eu para os primeiros testes – e me dei bem.
Foi aí que me chamaram para a segunda etapa da seleção: entrevista com o pessoal do RH.
(…)
Vamos que vamos.
Pergunta que pergunta, e eu só me fazendo de bom moço.
Imaginei estar indo bem.
Lá pelas tantas, um circunspecto senhor (usasse gravata e cabelos aparados, para mim, à época, já se tratava de circunspecto senhor) …
Pois bem, o tal cara veio com uma pergunta provocativa:
– Por favor, senhor, cite três personalidades que mais admira?
(…)
Alguém me chamar de ‘senhor’ naquela altura do campeonato, dado ao meu visual hiponga, já era uma heresia.
Mas, vá lá…
Nunca havia pensado nisso.
Mesmo assim respondi de bate-pronto:
– Martin Luther King, John Lennon e Caetano Velsoso.
(…)
Vrige Mãe!
O homem deu uma estancada pra trás. Quase caiu da cadeira.
No ato, encerrou a entrevista – e me informou que eu esperasse em casa que seria chamado para o tal psicotécnico.
(…)
Não preciso dizer, mas digo.
Não me chamaram mais, não.
Em casa – e entre os familiares – houve uma divisão nas cornetadas à minha brilhante (ao menos para mim) resposta.
– Ele vai me escolher três nomes que são contra o sistema vigente. Acha que o banco vai querer um ‘rebelde sem causa’ entre os funcionários?
Foi a definição do primo José, já empregado no Banco do Estado de São Paulo.
Já para a minha mãe o que pegou mesmo foi meu estilo.
Cabelos longos, roupas extravagantes, ar de indolência.
Enfim…
Nunca saberemos
(…)
Sinceridade?
Não lamentei a perda da suposta vaga.
Não estava nos meus planos ser bancário.
Aliás, sequer planos eu tinha.
(…)
O fato – e o tema da crônica – é que, tantos e tantos anos depois, já entrado, lavado e enxaguado nos 60 e tantos, se alguém me fizer a mesma pergunta hoje, aceito até trocar Lennon e Caetano por outros nomes.
Gosto deles, mas vá lá…
Não abro mão, no entanto, da total admiração ao grande Luther King.
Ele nos ensinou a ter o sonho de um mundo melhor, mais fraterno, justo e igualitário.
Custe o que custar, sua frase ainda hoje ressoa e pede urgência:
“Eu tenho um sonho ”.
*Nota do Blogueiro:
Esta música sempre me emociona!
O que você acha?