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Aretha

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Ninguém personifica mais toda a conexão espiritual afro-americana do que o blues, R&B e o rock. Formam a maneira como as dificuldades e a tristeza se transformaram em algo belo, cheio de vitalidade e esperança.

Palavras do então presidente Barck Obama, em 2015.

Aretha Franklin acabara de se apresentar no Kennedy Center, em Washington.

Obama estava maravilhado, curvou-se ao cumprimentar a Rainha do Soul.

Uma reverência que o mundo fez a Aretha ao longo de sua extraordinária carreira. Foram 42 discos de estúdios, 6 ao vivo, 45 coletâneas e 131 singles.

Ao todo, a diva vendeu mais de 75 milhões de cópias.

Morreu ontem, aos 76 anos.

(…)

Sou chegado em uma “música de preto” – era assim que se dizia no Cambuci, bairro operário onde nasci e vivi até a adolescência.

Era assim que os batuqueiros  chamavam uma nova rodada de cerveja e de sambas no reduto da Império do Cambuci.

Sereno da madrugada

Quem mandou você cair

Atrapalhou a batucada

Do Império do Cambuci

(…)

Na verdade, quem me deu o toque e me iniciou na coisa toda foi o elepê “Samba Esquema Novo”, de Ben Jor, então Jorge Ben, lá no início dos anos 60.

Pirei ao ouvir “Chove Chuva”, “Por Causa de Você, Menina”, “Mas Que Nada” e outras mais.

Depois vieram Simonal, Jair Rodrigues, Noite Ilustrada, Gil, Tim Maia, Elizete, Milton, Cassiano, Melodia, Itamar, Djavan, outros tantos mais.

Do outro lado do idioma, mas com a levada bem próxima, Ray Charles, Ottis Reding, Marvin Gaye, Earth Wind and Fire, Stevie, mais outros tantos.

E Aretha, lógico.

(…)

Desconfio estar falando bobagem.

Claro que amei – e amo – também os Beatles, os Rolling Stones, Roberto e Erasmo, e Chico e Caetano e Elis e a turma toda que veio antes e quem veio depois e segue nesta incrível jornada do enCANTAR, não importando raça ou crença.

Música não tem fronteiras.

Música não tem cor, ensinou Carlinhos Brown – e eu concordo.

A música nos aproxima do Divino.

(…)

Me perdoem, se puderem.

É que quando um desses queridos se vai, a gente não quer apenas escrever um obituário, uma crônica.

A gente escreve para confortar a nós mesmos e às pessoas que amam àqueles que, um dia, fizeram nos sentir lindamente humanos.

A gente imagina, almeja e quer propor uma homenagem, uma pequena oração…

Hoje esta prece tem nome: Aretha

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