Porque hoje é sábado, então…
… outra da série:
Se o mundo não deu certo não foi por falta de trilha sonora…
La Vie en Rose
Até porque tenho uma historieta com essa música.
Querem saber?
Ouçam e leiam!
…
Saímos da velha redação aos trancos. Quinta pra sexta, noite alta.
Missão cumprida e comprida.
As páginas do jornal na impressora, prontas pra rodar.
Na manhã seguinte, a Gazetinha chegaria, como de costume, nas casas dos leitores.
A tiragem, de então, batia os 60 mil exemplares, distribuição gratuita, entrega domiciliar.
…
A reportada se acomodou em três ou quatro carros.
Mas, não rodamos muito, não.
Logo ali pelas bandas da avenida Nazaré paramos no restaurante Galeto Dourado.
Ninguém deu bola para a especialidade da casa.
Alguém bancou a primeira rodada de cerveja.
Fiquei na Coca Light que, como diziam os barulhentos, era o meu “principal defeito”.
Falou-se de política, futebol, dos bastidores e detalhes das reportagens que fizemos e outros assuntos menores. Os romances clandestinos do Escova, por exemplo.
…
A noite estava só começando.
Rimos de alguma bobagem que alguém deixou escapar.
E rimos que rimos que era a nossa hora de espairecer e brindar a graça de estarmos juntos e termos um trabalho digno.
…
Não sei se arrisquei um Campari, acho que não!
O relógio corria…
Vieram outras rodadas mais. E eu a me equilibrar na Coca Light que não sou do ramo da bebericagem.
– Pura incompetência! – o Nasci brincou.
– Dá pra confiar num jornalista assim? – outra provocação que ficou sem resposta.
Até por que os garçons já sinalizavam que a casa ia fechar.
…
Naquele mesmo instante, o repórter-fotográfico, o Anísio, lembrou: estava com “uma baita de uma fome”.
Na coisa de preparar as fotos da edição, sequer havia almoçado.
Pobre Anísio!
Os insensíveis funcionários da Casa fizeram ouvidos moucos.
– Não há mais ninguém na cozinha. Estamos fechando.
…
Resignados, não insistimos.
Pagamos a dolorosa e, solidários à necessidade do amigos e à sede de todos, saímos atrás de abrigo.
Fomos parar no Lellis, da Bella Cintra.
Não me recordo se o grosso da caravana foi pra lá ou desistiu no caminho.
Lembro – e nunca vou esquecer – que, lá pelas tantas da madrugada, o restaurante semi-vazio, só nós e outra meia dúzia de clientes, chega por lá o Caçulinha, o músico, aquele dos idos da TV Record, do Faustão. Uma simpatia! Cumprimentou a todos. Pediu seu trago e aboletou-se numa mesa perto da nossa.
Também lhe trouxeram um acordeon e ele não se fez de rogado:
– Uma canjinha só porque estou com muita fome, ok?
E tocou La Vie Em Rose…
M_a_r_a_v_i_l_h_o_s_a_m_e_n_t_e!
…
Ainda hoje, tantos e tantos anos depois, quando ouço a canção bate o mesmo encantamento, como se eu caminhasse pela noite iluminada de Paris ao lado de amigos e pessoas amadas. Chego a me perguntar se a cena foi real. Custo a crer se a vivi mesmo ou se a vi em algum filme de época ou ainda se sonhei o mais belo dos sonhos?
O que você acha?