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A Garota Que Devora Música

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Não acreditei quando me disseram.

Mas fui lá ver – e tirei a prova.

Existe, sim, a Garota Que Devora Música.

Eu a encontrei ontem no Largo da Memória, ali pertinho da rua das Boas Lembranças no Beco da Saudade.

Gostei muito de conhecê-la.

Me fez um bem danado saber que alguém tão jovem tenha tamanho interesse na MPB. Aquela da boa, com nosso DNA legitimado e que cultiva nossa identidade cultural.

Lembro sempre, nessas horas, a fala de Plínio Marcos:

“Um povo que não ama e não preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre.”

Grande e inesquecível Plínio, ator, dramaturgo, cronista dos bons, escritor, agitador cultural e bruxo.

Imagino o que o Maldito (apelido que recebeu por combater implacavelmente a ditadura) estaria dizendo do Brasil de hoje!!!

Mas, voltemos à Garota Que Devora Música.

Ela é mesmo um encanto.

Discorre com propriedade sobre os antigões como Nélson Gonçalves, Orlando Silva, Luiz Gonzaga e aqueles sambistas todos – Ismael Silva, Noel, Cartola, Nélson Cavaquinho e a turma da Era do Rádio.

Da bossa nova pra cá, então, esmerilha no repertório de Chico, Caetano, Gil, Ben Jor, Milton, Elis e tantos mais.

Vem nesse embalo até os dias atuais.

Com as restrições óbvias às mesmices que se ouve tocar nas rádios e nas TVs.

Fico boquiaberto com tamanho interesse.

Quis saber, então, como ela escapou ao tsunami de breganejos, axés e pagodes que hoje arrasta nossa juventude à tal sofrência e aos aê-aê-aê da vida?

Riu que riu de um jeito gostoso, bom de ver.

Respondeu com simplicidade.

Escapou? Simplesmente não ouve.

Diz que faz alguma concessão pro pessoal do Nordeste porque “de lá vieram Djavan, Alceu, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Belchior e tantos mais”.

Mas, em termos de música regional, prefere Renato Teixeira e Almir Sater.

Admira também Rolando Boldrin, o Senhor Brasil

Em termos de samba, “quem tem pra ouvir Martinho da Vila, Paulinho da Viola e Arlindo, precisa mais o quê?”

Ela mesmo responde e faz graça:

– Fundo de Quintal e mais nada.

… 

Que figura!

Me senti renovado ao conversar com ela no Largo da Memória.

Naquele exato instante, pressenti que nosso encontro daria a crônica do dia que escrevo à noite.

Por isso, fiz questão de perguntar:

– Quem não pode faltar em sua playlist?

Ela rebate de primeira:

– Paulinho Moska.

Pediu, tocou.

Vamos nessa?

 

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