Foto: Cartagena/Arquivo Pessoal
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Tem coisas que eu gostaria de lhes dizer.
Mas, não consigo…
As palavras, não raras vezes, escapam aos sentimentos.
E eu fico assim como estou agora… Um olhar para tela em branco, outro para a janela a perscrutar o horizonte em busca do quê mesmo?
Do desafio do dia.
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Escrever é envolver-se.
Envolver-se com quem?
Com quem nos lê, talvez seja esta a resposta.
Com quem nos lê – e o ‘bem-comum’.
Compromissar-se.
Parece um risco, a princípio.
E o é, não duvido.
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“Na vocação para a vida está incluído o amor, inútil disfarçar, amamos a vida. Lutamos por ela dentro e fora de nós mesmos.”
Li há tantos anos esse pensamento numa crônica belíssima de Lygia Fagundes Telles que pensei, à época, publicá-la na íntegra aqui no Blog.
Tentei um contato com a editora para a autorização; mas, acabei absorvido por outras histórias – e a perdi de vista.
Ficou a reflexão que, a bem da verdade, não saiu de mim desde então.
É uma espécie de bússola para as bobagens que eu ouso escrever.
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Quando visitei Cartagena, na Colômbia, Gabriel Garcia Marques ainda era vivo. Uma das atrações da cidade era ( continua sendo) exatamente a casa onde morou o escritor.
Uma casa imponente, de cores fortes e muros altos; quase uma fortaleza.
Óbvio, também passei por lá várias vezes em minhas andanças.
O movimento de turistas era razoável.
Todos registravam o momento, munidos dos benditos celulares ou uma ou outra máquina fotográfica.
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Curiosos.
Alguns poucos sabiam quem era Gabriel Garcia Marques.
Outros tantos estavam ali no embalo.
Sem dúvida, a proximidade do mar, vizinha de uma construção antiga que margeia a praia, aquela bela residência se faz o cenário ideal para as benditas selfies.
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Lembrei este momento, pois alguém por ali – provavelmente sabia e muito bem do lugar e da obra do escritor – dizia aos incautos ouvintes que, por mais mágicas e delirantes que fossem, as tramas de Garcia Marques tinham base e raiz na realidade de sua gente, o povo colombiano.
Talvez o homem fosse guia de turistas ou um professor que discorria aos seus alunos.
Não sei.
Disse aquelas palavras com naturalidade, e alguma emoção.
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Entendi naquele instante que somos autores e personagens na história que cada um de nós se propõe a viver.
Alegre ou triste, essa narrativa se renova a cada manhã.
Se a trama vai ou não para o papel ou se transforma em post ou coisa que o valha nas redes sociais, é o que menos importa.
Importa mesmo que se viva intensamente e sejamos sempre o dono e o senhor do nosso próprio destino.
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Não sei lhes dizer se disse tudo o que gostaria.
Tudo bem. Amanhã tem mais – e não é uma ameaça…
No fundo, sempre contamos a mesma história.
O que você acha?