Uma semana de pausa – e, ao que consta, nada consta.
O bloco de sujo chamado Brasil não consegue demarrar e seguir adiante para o sempre anunciado – e nunca alcançado – futuro promissor.
Ainda – e por uns bons tempos – viveremos sob os escombros do ‘sanatório geral’ que este país se transformou e, pior, não dá quaisquer sinais de melhoras.
O carnaval é só um ‘remedinho’ pra aliviar as dores e a tensão.
Mas, o deste ano, apesar dos esforços da nossa gente, eu diria que foi um carnaval melancólico – ou serei eu o melancólico no carnaval? – da tola perseguição aos amores neymarianos, dos bem-vindos protestos nos blocos e nas escolas de samba, do rebaixamento da Vai-Vai (a mais tradicional escola de samba paulistana) e do lamentável twitter presidencial.
A que ponto, chegamos!!!
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Não duvido que ainda se encontre, aqui e ali, por esse Brasil varonil, foliões retardatários embalados a trios elétricos e blocos de rua.
Relutam em rasgar a fantasia e enfrentar as broncas do que se convencionou chamar de vida real.
Têm meu total apoio.
– O ano começa só na segunda – me alertou o brincante, mais pra lá do que pra cá, na manhã de ontem na pacata Barreiro, onde fui me esconder (inutilmente) do tal tríduo momesco e de mim.
Enquanto eu arranjava as malas e as tralhas no carro para voltar para a metrópole, o rapazote me lembrou que, em São Paulo e no Rio, teremos o desfile das campeãs.
– Não é a mesma coisa. Mas, é bom também.
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Mancha Verde foi campeã em Sampa.
Mangueira, no Rio.
O enredo da Mancha reverenciou A Saga de Uma Guerreira Negra, a princesa africana que, escravizada no Brasil, protagonizou a luta pela liberdade e fundou o Quilombo dos Palmares. Diz a lenda, foi a avó de Zumbi.
A Mangueira saudou os heróis esquecidos da história do Brasil. Aqueles que não constam dos registros oficiais. A imagem de Marielle permeou o irretocável desfile. Sob aplausos e vivas de todo o sambódromo.
Marielle, símbolo de luta, presente!
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Eu pensava nos 300 quilômetros de estrada. Mas, confesso, me deliciava com o bom humor do rapazote, folião solitário, que resistia em abrir mão da ilusão, do sonho e da deliciosa sensação de ser feliz.
Queria poder, bem que eu queria, compartilhar desses bons fluídos, mas sempre fui ‘pé no chão’ com o tal risque e rabisque da vida.
Sei que não é legal.
O brasileiro, de um modo geral, está perdendo esse dom.
Daí, a melancolia, creio.
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O novo ‘parça’ vê minha pressa em partir.
E se despede, sorrindo:
– Não quero lhe atrasar. Boa viagem, doutor!
Entro no carro – e toco para São Paulo.
A Dutra me espera.
Tomara que não chova no caminho…
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Foto: site da Mangueira
O que você acha?