Sign up with your email address to be the first to know about new products, VIP offers, blog features & more.

Azulzinho

Hoje tive um compromisso, aqui pertinho, no Ipiranga.

Ir ao Ipiranga sem dar uma passadinha – por instantes que seja – na igreja da Imaculada Conceição, na avenida Nazaré, é, para este esmulambado escriba, como ir a Roma e não ver o papa.

O tom azul daquele templo me fascina.

Está nas paredes de pintura suave, está na luz filtrada pelos vitrais…

Faz parte do lugar.

Deus ali – acreditem – é azulzinho…

Ali e azulzinho, me sinto em paz.

II.

Pelos longos anos em que trabalhei no bairro, naquele espaço encontrei refúgio e abrigo para minhas reflexões e preces. A visita, vale dizer, não tinha hora certa para acontecer. Logo pela manhã, hora do almoço ou no entardecer. Quando dava na veneta. La ia eu. E era de uma utilidade imensurável.

Foi neste porto-seguro que refiz caminhos, duvidei de certezas absolutas e, não raras vezes, redimensionei o quanto andava distante de mim.

Gostava de ficar por lá a caminhar em círculo ao redor dos pesados bancos de madeira. Via de regra, a igreja estava vazia e silenciosa. A tal ponto que ouvia o estalar dos meus passos no chão de pedra…

III.

O que me intrigava era a ausência de imagens de santos. Havia dois crucifixos – um logo à direita de quem entra e outro em frente ao altar. No altar-mor, a referência era a bela estátua da Santíssima Virgem.

Nunca entendi direito o porquê das capelas laterais vazias – hoje, pude ver, já não estão mais assim. Ponteiam ali nossos santos mais tradicionais: Antônio, Judas Tadeu, Expedito, Rita e as mães padroeiras, Fátima e Aparecida.

Se esqueci de algum, que me perdoe. Fiquei só instantes ali.

E voltei a me sentir bem…

Fez-se a paz que há tempos não enxergava.

IV.

Outra coisa.

Sempre foram reveladoras as conversas que tive comigo mesmo. Falas silenciosas sob o olhar complacente da Santíssima, inspiradas por um Deus azul.

Não sei se me fiz melhor. Se fui menos injusto, mais tolerante. Se apostei em mentiras. Ou se deixei a verdade e o amor me escaparem pelo vão dos dedos.

Não sei.

Na real mesmo, sentia-me combatendo o bom combate.

Enfim…

V.

Meus cinco ou seis leitores – será que vocês ainda estão aí, do outro lado? – sabem que não sou de dar conselhos a ninguém. Mas, hoje, acho que é inevitável dizer ou desejar que todos tivessem um momento desses diariamente. Alguns minutos de conversa franca com a gente mesmo. Para que se revitalize sonhos e descubra-se um sentido para estar vivo, aqui e agora…

Há que se ter um canto de paz…

Pode ser uma canção.
Ou lugar qualquer em que renasça o Deus azul que vive em cada um de nós.