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Barack Obama

– O nome é Barack Hussein Obama.

Confesso. Não me causou boa impressão a primeira vez que ouvi falar o nome do atual candidato dos democratas à presidência dos Estados Unidos. Foi no começo do ano passado ao assistir conferência de um diplomata americano na universidade onde trabalho. A bem da verdade, vou ser sincero, estava à deriva no idioma quando ouvi a referência. A intérprete vacilara e atrasara alguns valiosos instantes a tradução do que o homem nos falava. Resultado: fiquei mais perdido do que normalmente sou.

O americano que nos visitava era um mulato alto, elegante num sóbrio costume cinza. Falava pausadamente sobre um tema qualquer ligado ao ensino superior americano. Na hora em que se abriu o microfone às perguntas da platéia, alguém quis saber sobre o cenário político para 2008, mais precisamente sobre a sucessão de Bush.

– Há um candidato em que confio plenamente, disse o conferencista.

Até aí entendi.

– O nome é Barack Hussein Obama.

Aqui, eu me perdi.

Misturei os nomes pela sonoridade. Imaginei que falava de Sadam Hussein e Osama Bin Laden, não atinei lé com cré e conclui, por conta e risco, que tão cedo a guerra do Iraque não teria fim – o que acho uma estupidez.

O homem fez uma pausa, tipo suspense mesmo. A intérprete aproveitou e pôs em dia a tradução. Foi o tempo necessário para por fim àquela apreensão, e dar lugar a outra.

O diplomata – nem sei como devo chamá-lo, pois está afastado do cargo – retomou a palavra e caprichou no tom do enigma.

— Senhores, temo não poder votar nele, mesmo se o Partido Democrata o escolher seu representante.

E essa agora?

Desisti de entender o que ele dizia em inglês e deixei levar-me pacientemente pela tradução. Que, aliás, confirmou minhas suspeitas. Na verdade, bastou olhar ao redor para ver que a platéia estava tão curiosa como eu com o encaminhar do tema pela conferencista. Certamente, todos ali sabiam mais do idioma yanque do que este desarvorado escriba. Desconfio, porém: era a mesma a indagação a batucar na cabeça de cada um. Ué, não pode votar por quê?

Ele tratou de responder, com uma sinceridade que nos chocou.

— Senhores, como eu, Barak Obama é negro. Temo que possam vir a assassiná-lo se chegar à presidência.

Assim. Nem mais, nem menos. Nem lágrimas, nem ranger de dentes. O fino da sinceridade. Impressionou-me o tom de voz do homem. Era como se dissesse algo previsível, que todos sabíamos ou deveríamos saber. Acrescentou qualquer coisa como ‘a sociedade americana ainda não está preparada para ter um negro na Casa Branca’ e singelamente passou à pergunta de outro espectador.

Hoje, recebi a revista Veja. O rosto de Obama, sorridente, cobre toda a capa. É o candidato oficial do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos. A manchete é performática:

ELE PODE
SER O HOMEM
MAIS
PODEROSO
DO MUNDO

Lembro da palestra. E temo. Custo a crer nas palavras daquele diplomata, de cabelos brancos e uma vida de serviços prestados ao seu país. No fundo, no fundo, preferia não tê-las ouvido.