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Bial entrevistou Jean Wyllys e…

Quinta à noite.

Posto em sossego, de olho no Planeta Bola a rolar na telinha, recebo a informação, no zap, que Jean Wyllys estará no Conversa com Bial

Replico:

Hoje?

Hoje! – vem a confirmação.

Fico curioso.

Ando às turras com a poderosa campeã de audiência, mas vá lá.

Termino de ver a boa vitória do time de Sampaoli sobre o Atlético Goianiense – 3 a 0, o Santos continua na Copa do Brasil – e me preparo para ver o tal encontro.

Soube que Pedro Bial, ainda nesta semana, teve como entrevistados o ministro Sergio Moro e o escritor (e guru do bolsonarismo) Olavo de Carvalho. Moro foi ao estúdio no Rio e Bial bateu-se até os Estados Unidos para falar com Carvalho.

Não vi as entrevistas – e não pretendo vê-las.

Talvez devesse, não sei.

A entrevista com Wyllys foi gravada em Barcelona, onde o ex-deputado foi passar o aniversário de 45 anos no começo de março.

E se fez tocante, e reveladora.

Começou tarde, uma e tanto da manhã.

Bial fez as perguntas que deveria fazer, diria até que no tom apropriado.

Todos os pontos importantes da saga do rapaz foram levantados – da participação no BBB à cusparada em Bolsonaro, do preconceito que enfrentou desde criança à notável participação como parlamentar na Câmara Federal, das ameaças de morte e perseguição aqui sofridas à nova vida de doutorando em Berlim.

Wyllys não conteve as lágrimas por vários e vários momentos..

Mostrou o travo amargo de quem se vê obrigado a deixar o país que ama – e, ainda imagina, não sabe como, poder transformá-lo em uma nação socialmente justa, solidária, contemporânea, que a todos acolhe.

Normalmente, escrevo para o Blog na madrugada.

Desta vez, não consegui.

Perdi a vontade, a inspiração e o sono.

Fiquei remoendo os momentos as palavras, a entrevista.

A impressão que trago comigo há algum tempo – e diria que nem a mim mesmo ousava dizer com todas as letras –, o desabafo de Wyllys trouxe à tona “em letras garrafais”, como diria o saudoso Marcão, meu primeiro editor quando queria estourar uma manchete.

Cristalizou-se.

Há, sim, um conluio em andamento – e muito bem urdido e bem sucedido sucedido até aqui – para destruição das liberdades democráticas em nosso hoje triste e destrambelhado país.

Gradativamente, os Senhores do Poder vão estilhaçando e desconstruindo as conquistas sociais, trabalhistas e libertárias que ousamos conquistar nesses brevíssimos anos de democracia plena que pudemos, a fórceps, viver.  Desde a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral ao Golpe de 2016, com o impeachment da presidente Dilma.

Temo pelo retrocesso inevitável. Que este momento seja pior do que aquele, do execrável Golpe de 64 porque engendra fortemente para se perpetuar no Poder. Os militares de então sabiam que tinham prazo de validade.

Outra dura conclusão:

Tão cedo o Lula, por tudo o que representa, não sai da prisão. Que é absurdamente arbitrária, mas vital para o plano de preservação do Poder da extrema direita.

Logo, logo, à imagem e semelhança de Jean Wyllys, todos nós, os que sonham com “um Brasil igualitário, de todos os brasileiros”, seremos perseguidos, marginalizados, sufocados. Quem não sair do país, será exilado em si mesmo.

Gostaria de terminar esse texto, com alguma réstia de esperança.

Sou um homem velho. Em meu horizonte, embaçado, eu não a vislumbro.

Os 80 tiros que assassinaram o músico negro no Rio de Janeiro é uma afronta a qualquer ilusão que se possa ter.

Me perdoem a pouca fé, mas hoje não consigo.

Quem sabe n’outra manhã…

 

Foto 1: arquivo pessoal
Foto 2: reprodução

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