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Breve memória de um homem barbado (5)

XIII.

Por essas e por outras, minhas idas a esses simpáticos estabelecimentos de beleza e estética masculina foram, digamos, rareando. O cavanhaque, como se tivesse vida própria, se transformou em uma barba a ser cortada sabe-se lá Deus quando… Puro desleixo.

O amigo Tarsitano resolveu intervir. Voltou de uma viagem a Manaus e, consciente das minhas aflições, me presenteou com um jogo de máquinas, pentes, tesouras e lâminas.

No melhor estilo Organizações Tabajara, anunciou:

– Seus problemas acabaram. Dá um jeito nesse rosto, por conta e risco das maquininhas que lhe trouxe, pois você anda muito relaxado. Parece um neanderthal.

XIV.

Gostei da preocupação do amigo e do brinquedo. Tanto que passei a usá-lo com frequência.

Só então me dei conta que não era o único na farra dos aparadores. Virou modinha usar barba nos mais variados estilos e modelos, seja qual for a idade e a classe social.

– É uma tendência, super atual e que se vê no mundo todo, me diz uma conhecida ligada ao mundo fashion. Ui!

– Veja na Copa do Mundo. Havia barbas de todos os tamanhos, de todos os tipos. O armador italiano Andrea Pirlo parecia uma figura que acabara de sair dos evangelhos. Um must.

Eu, hein!, nunca imaginei que houvesse especialistas nesse assunto.

Inclusive, a moça me fez uma recomendação “valiosa”.

– Essas barbas bem fininhas super aparadas, com rigor geométrico, estão em desuso. Dão uma aparência muito artificial e vulgar. Prefira uma barba mais cheia, com ar mais natural.

Gostei da sugestão. Menos por que é moda, e mais, muito mais, porque não tenho mais essas veleidades de parecer mais jovem.

O tempo é inexorável, meus caros.

Chega para todos. E ainda bem que é assim.

XV.

Como?

Se nunca pensei em me livrar dos pelos na cara?

Fazer como meu pai, escanhoá-la todos os dias?

Vou lhes confessar que, nesta época, próxima ao Natal, eu fico tentado a extirpá-la de vez.

Essas brincadeirinhas otárias de que estou me preparando para fazer um ‘bico’ de Papai Noel, diria, não são agradáveis – ou minimamente gentis.

Também me chamam de “o barbudinho do PT” (nada a ver), “homem das cavernas”, “nono”, “barba” e que tais.

Eu sei, eu sei, falta criatividade para a rapaziada, mas fazer o quê?

Desbaratinar e seguir em frente.

XVI.

Mas, há suas compensações.

Há coisa de dois ou três anos, andei por Cuba e um senhor em frente ao Hotel Ambos os Mundos disse que minha barba estava parecida com a do escritor Ernest Hemingway, que morou ali por algum tempo.

Achei cordial, simpático.

Fiquei até lisonjeado.

Ali, sim, sabem reconhecer o valor de um homem barbado.

Lembro, com saudades, os ensolarados dias que passei em Cuba, a bela vista para o Malecon, as praias de Varadero e o incrível gingado da moça que tocava bongô…