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Brevíssimas 7

— Então?

— Então!

— Então.

— Então…

Então, pergunta sem enunciado.

Então, exclamação sem ênfase.

Então, resposta sem explicações.

Então, reticências que deixa tudo
como está, tudo por dizer.

II.

Então, no dicionário,
é advérbio e se traduz em:

a) nesse ou naquele momento.

— Então, professor, sabe o trabalho
que eu devia entregar hoje? Então, eu não fiz….

b) nesse caso.

— Não há mais ingressos para
assistir ao filme que queríamos.
Então, vamos embora…

c) serve para animar e denota espanto.

— E então, compadre, eles nunca
mais se encontraram.

d) tempo passado, época, antanho.

— As festas de então eram bem mais animadas.

III.

Então, então, então…

A segunda amanheceu cinzenta e gelada.
Em nada prenunciava o dia de sol que então
se fez, mesmo que persistisse o friozinho.
Juntei a falta de vontade com os desafios
da semana que se inicia – e nada de
entabular um tema para o post de hoje.

Parece que perdi o passo.
Que escapou entre os dedos.
Zuou a mente e o coração.
Estava quase lá, e então…

IV.

Antes mesmo do primeiro bom-dia,
ouvi o primeiro então. Da dona Yolanda
e comecei a ficar encafifado.

— Então, você vai viajar no feriado, filho?

Não soube dizer. Aliás, é uma constante
nos dias atuais: nunca sei se sei
ou não sei. Depende. Sempre depende.

— Então, mãe, não sei – respondi sem responder.

V.

Entrei no carro e, então,
liguei o rádio para saber as notícias
do dia. Quem sabe uma luz.
Saí apressado, sem tempo
para folhear os jornais de hoje,
com as notícias de ontem.

Eram as mesmas de sempre.
Violência. Chavez. O presidente que viaja.
Invasão da reitoria. A seleção de Dunga.
Nada de novo, então.

A sociedade onde tudo acontece
virtualmente. Do imediatismo
da informação. Do descontrole.
Do minuto a minuto –
e eu nada tenho a declarar.
Nada que me motive umas
modestas linhas, que seja…

Só para exemplificar.

Houve um tempo em que a seleção
era de todos os brasileiros.
Nem isso mais temos. Naldo,
Afonso. Jogam aonde?
O que sei eu deles?

E então?

VI.

Não sei. Ficamos assim.
Para quem não tem nada a dizer,
até que já escrevi demais…

Ficamos assim, então.

Ninguém me procura.
Também não encontro ninguém.
E vida que segue,
embora pareça não sair do lugar.

VII.

Amanhã, a gente volta, então.
Mais inspirado ou menos desesperado.

Fica só o registro de quão
curiosa é a palavra então.
Não diz nada, mas está em todas.

Ou quase.

Como esta quase-crônica.
Sem enunciado, sem explicações,
sem ênfase. Que deixa tudo como
está, tudo por dizer…

E, então, você ainda me lê?