Aproveito o recesso da Universidade para seguir a recomendação do amigo Poeta. Ainda no período das aulas, ele insistia para que eu me exercitasse um bocadinho para melhorar a qualidade de vida.
– Faça uma caminhada diária de trinta, quarenta minutos, e você vai ver o bem que lhe trará. Tanto para o corpo como para alma.
Tivemos um semestre dos mais estafantes, com algumas situações que nos fustigaram o equilíbrio e nos tiraram o sono. A vida acadêmica não é essa molezinha que muitos imaginam. Tem lá seus enfrentamentos e imprevistos. Isso para não falar das questões pessoais, com as quais, bem ou mal, todos lidamos em determinados momentos de nossas vidas.
Enfim…
Como lhes disse, tento me esforçar para por em prática o bom conselho do amigo nesses dias de estio. Todas as manhãs me ponho a postos em uma pista apropriada, aqui, nos arredores de onde moro, para fazer minha peregrinação. Não excedo a meta proposta pelo amigo – 40 minutos já está de bom tamanho, se tanto e olhe lá.
Reparei nesses dias que há uma trupe de abnegados com a mesma rotina que eu. Tem idade e estilo diversos, mas esmeram-se no vai-e-vem com ar sério e compenetrado. Há os solitários silenciosos. Alguns que caminham em pares ou em grupo e conversam assuntos cotidianos (vale da crise política e econômica ao fundo do poço da seleção). A moça que segue à minha frente, por exemplo, carrega um desses fones de ouvidos coloridos, enormes, que só vi em jogadores de futebol quando chegam para o jogo. Outros trazem o seu lulu de estimação para o bordejo. Os mais apressadinhos correm – não me perguntem para onde, nem o porquê.
(Aliás, nunca entendi essa moda de maratonas – especialmente, quando fecham ao trânsito as ruas perto de casa, e complicam a paz das manhãs dos meus domingos).
Voltemos aos caminhantes…
Reparo também que ninguém sorri.
Ninguém se mostra à vontade na pista.
Eu, inclusive e principalmente.
Para tentar me convencer de que estou fazendo o certo, lembro o bordão do personagem Paulo Cintura, da inesquecível Escolinha Do Professor Raimundo: “Saúde é o que interessa. O resto não tem pressa”.
Mas, sinceramente, preferiria estar em outro lugar. Viajando para um lugar bonito do Caribe, com sol e mar de águas de um inabalável azul turquesa.