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Chacrinha na Redação

Quem não acreditar na história que conto a seguir pode perguntar para a Leila Kiyomura, que é repórter, das mais conceituadas, do Jornal da USP. Pode também pegar o depoimento da Regina Maria Curucci que também era colega da gente na combativa Redação da Gazeta do Ipiranga nos idos de 70 e 80 quando o fato se sucedeu. Aviso logo, porém. Não sei onde a moça anda. Há tempos não tenho notícias dela.

O repórter-fotográfico era o Cláudio Michelli, o popular Clamic. Foi ele que registrou o fulgurante momento com a velha Rolleyflex caixote. Só que com este não vai dar para falar, não. Ele partiu antes do combinado para o outro lado da constelação.

Era uma tarde de sol de um dia qualquer. Não sei precisar quando.

Tenho claro na memória, porém, o alvoroço que tomou o velho casarão da rua Bom Pastor, onde trabalhávamos.

Risos, assobios, aplausos e ruidoso vozerio.

No andar de cima, ouvíamos uma voz que se sobressaia. Era conhecida, mas inimaginável de estar ali.

“Alô, Alô… Terezinhaaaaaa!

Vocês querem bacalhau?”

Interrompemos o que fazíamos.

Quem é o maluco-beleza, pensei.

Antes mesmo que pudéssemos chegar às escadas, o homem já estava diante de nós.

Era o próprio. José Abelardo Barbosa de Medeiros.

O Chacrinha.

Aquele do “quem não se comunica se trumbica”.

Pois, então, fiel ao lema, ele estava visitando os jornais de bairro paulistanos para divulgar seus programas que iam ao ar na TV Bandeirantes.

Assim que ele me viu, não teve dúvidas em como se anunciar:

“Alô, Alô, meu filho… Cheguei! Onde vai ser a entrevista?”

Surpreso, apontei a sala de reunião – e afastei, como pude, os curiosos.

Logo fizemos uma roda ao redor do Velho Guerreiro e o enchemos de perguntas que ele respondeu com monossílabos. Encaminhava as frases como se estivesse no palco a apresentar suas loucas atrações que, àquela altura, não viviam um bom momento no Ibope.

As fotos do Clamic mostraram um senhor com roupas comuns, de ar cansado e algo triste.

Uma tristeza que traduzia o baque que sofreu ao retirarem a Discoteca e a Buzina do Chacrinha da grade da toda poderosa TV Globo. Que, na verdade, ele ajudou a popularizar em seus primeiros anos.

— Me disseram que iam apostar nas novelas e no jornalismo. E que a linha de shows e programas de auditório era muito personalista. Assim acabaram com os meus programas, com o do Sílvio, da Bibi Ferreira e outros mais. Mas, continuo na luta, meu filho.

Óbvio que não foram exatamente as palavras que disse. Mas, o sentido era esse mesmo.

O texto final da reportagem foi da Leila.

Meses depois, ele voltou para a Globo para um novo desafio. Juntar os dois programas em um, o Cassino do Chacrinha, e consolidar a audiência de um novo horário: as tarde de sábado.

O Velho Guerreiro morreu em julho de 1988 – e eu nunca esqueci aquela tarde de sol de um dia qualquer.

 

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