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Cláudio Micheli (in memorian)

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A imagem que ilustra o Blog hoje, Clamic a produziu no laboratório de revelação de fotos da Gazetinha no tempo em que não havia as maravilhas do mundo digital. Trabalhou horas a fio com as imagens sobrepostas no velho ampliador que dispunhamos então. Nunca nos disse quais artes e engenhos usou para conseguir tamanha proeza. Não precisou. Sempre soubemos do seu imenso talento. Saudades!

É inevitável que eu inclua em minhas memórias dos 50 anos de jornalismo um breve relato sobre o amigo e repórter-fotográfico Cláudio Micheli.

Saudoso parceiro de tantas jornadas na combativa redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor.

Velhos tempos. Belos dias.

II.

Nós, da Redação, o chamávamos de Clamic.

Era um cara talentoso – e com algumas manias.

Só andava de camisetas promocionais – e não importava se ele as ganhava de um candidato a vereador ou de uma loja em liquidação ou fosse o evento que fosse.

Para esconder a calvice, usava boné, o que naqueles idos era um acinte.

Colecionava discos com músicas de sucesso, fosse qual fosse o gênero.

Sonhava em trabalhar no rádio.

E, certa vez, largou o jornalismo para ser vendedor de sapatos.

Por um breve tempo, é bem verdade.

Logo estava de novo entre nós.

Com a mesma criatividade para fotografar o dia a dia do bairro – e com a mania de ter manias.

III.

Nessa volta, ele logo achou um jeito de, entre uma reportagem e outra, passar o tempo a seu modo.

Recebíamos uma penca de correspondência diariamente. Quase toda ela endereçada a mim; então, editor e diretor de Redação.

Instinto observador, Clamic logo percebeu o quanto os remetentes erravam na grafia do meu nome.

Martins.

Martinez.

Martini.

Marinho.

Martinho.

Martim.

Marins.

Marteiro.

E por aí iam…

Isso quando não me nomeavam de Roberto Carlos…

O que não era raro acontecer.

IV.

O que fez o amigo?

Tratou de colecionar esses envelopes.

Ao cabo de algumas semanas, havia uma pilha deles amontoados em um canto da sala, entre o arquivo e o cavalete com os jornais do ano.

Óbvio, que as pessoas também tinham esses lapsos quando me encontravam ao vivo e pálido, como sempre fui.

Às vezes, eu corrigia. Às vezes, não me dava ao trabalho.

Nunca me incomodou.

V.

Esqueci de dizer que o Clamic era também ‘esquentadinho’.

Sujeito a chuvas e trovoadas a depender do dia e da hora.

E foi numa hora incerta que ele perdeu a paciência com um senhor do Rotary Club local que insistia em me chamar de Martini:

“Meu considerado”, disse o Clamic já com voz de poucos amigos. “Martini é vermute. Martins é o português das batidas de amendoim. Martinho é o sambista. O nome dele é Martino. Martino, entendeu!”

VI.

Fez-se silêncio por segundos intermináveis. Depois todos caímos numa gostosa gargalhada.

Até mesmo “o considerado” riu. Sem graça, algo constrangido, mas riu.

Trilha sonora

Uma das favoritas do Clamic.

1 Response
  • Leila Kiyomura
    8, agosto, 2024

    Saudade do Clamic, grande fotógrafo…
    Tinha tanto para viver. Desafiava quem não acreditasse em discos voadores. Ele provava que existiam, mas do jeito brincalhão de sempre. Deixou saudade…

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