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Crônicas de Viagens – Bruxelas

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Fotos: Arquivo Pessoal

60 – Perdidos no meio do nada

Roteiro para um filme em preto e branco à moda antiga.

Aqueles dos tempos do cinema mudo.

Cena 1

Imaginem meia dúzia de brazucas perdidos no meio do nada pelas freguesias de BRUXELAS, carregando malas e pacotes, à espera de um trem que os levaria para o aeroporto internacional da capital da Bélgica.

Cena 2

Percebam.

Estão cansados, atônitos e algo desesperados sob um abrigo mequetrefe do que poderia ser uma estação ferroviária, mas não é. Trata-se apenas de uma parada que dá acesso a uma pequena cidade cujo o nome eles ignoram.

Cena 3

Desconfiem.

Estão atrasados para o voo que os levará de volta à terra natal – embora, e com certeza, pelo menos um deles gostaria de se deixar por ali por mais uns dias.

Corte para as perguntas que inquietam nossos eventuais espectadores.

O que fazem ali?

E principalmente:

Como chegaram até ali?

Grave:

Como se sairão dessa – se é que conseguem?

Os trens não param. Passam batido e voando-baixo. Apesar dos acenos tresloucados e lamentações (que não podemos ouvir, pois estamos numa pantomima).

Agora, um flashback:

Dois dias antes, lá estão nossos náufragos urbanos a desembarcar de outro trem na estação do metrô de Bruxelas.

Estão felizes, os inocentes.

Vão passar o tempo visitando os marcos da cidade – a Grand Place de Bruxelas, o Manekken Pis ( a estátua do garoto urinando que adorna uma pequena fonte), o Palácio Real, algumas lojas que vendem chocolates a granel e ainda uma escapada para a bela cidade de Brugges.

É inverno, fim de janeiro. Cai uma chuva miúda.

Mesmo assim chegam ao hotel com a ajuda de uma conterrânea, ali residente, que os viu perdidos e atrapalhados à frente da estação. Um anjo que do nada surgiu e os orientou.

Pois então…

Observemos agora – e discretamente – os nossos personagens, com ares de fim de feira, fechando as malas e caminhando rumo ao metrô que os levará até o trem que, por fim, os deixará no aeroporto de Zaventem a menos de 15 quilômetros do centro.

Estão tranquilos.

Mas há um senhor ali que não tira os olhos do relógio.

Está cronometrando o tempo, creio.

Sem problemas. O recepcionista do hotel, solícito que só, lhes garantiu: não tem como errar.

É pegar o metrô e, depois, o trem para Zaventem – e descer onde todos descem.

Outro anjo a lhes indicar o bom caminho.

Algum problema?

Nenhum, se não fosse a indecisão do grupo.

A cada parada do trem, um deles faz menção de descer acompanhando o fluxo dos passageiros.

Alguém alerta:

“Não é aqui.”

Ao que o outro responde:

“Vai saber? Estamos num trem ultrarrápido.”

Ops..

Surge uma nova personagem na trama.

Eis que adentra o vagão uma senhora (senhorinha mesmo) com trajes de aeromoça, um tanto antiguinhas as roupas, mas, vá lá, são de aeromoças. Ou parecem ser.

Nossos conterrâneos se olham e entreolham.

Acho que silenciosamente chegam a algum consenso.

Outro anjo?

Um dos jovens tenta entabular uma conversa com a senhora.

Mas, ela parece não entender – e se mostra algo importunada.

Desistem.

Mas ficam à espreita.

Duas paradas depois, a senhorinha levanta-se e desembarca.

Ato contínuo, nossa trupe faz o mesmo.

Ela permanece indiferente. 

Já na plataforma, segue para fora da estação a passos firmes.

E os brazucas, de mala e cuia, em seu encalço.

Mas, cadê as pessoas, os guichês, os aviões?

Cadê o aeroporto, gente?

Simples.

Não é ali.

Não estão numa estação.

Aquele é só um ponto de desembarque que dá acesso a alguma cidadezinha nas proximidades, mas longe dali.

É, por assim dizer, um grande nada.

Há apenas uma parada de ônibus do lado oposto de onde desceram.

Quando os viajantes se dão conta do erro – é tarde.

A senhorinha vai distante e, indiferente ao drama que vivem, perfila-se à espera do tal ônibus (que não está no ponto, diga-se).

Desolada – e sem outra opção a turminha volta para o tal abrigo.

E, na base do Deus nos ajude, fica à espera de outro comboio.

Fim do flash back.

Cena 4

45 minutos depois. Frio, vento, meia dúzia de trens rápidos que passaram zunindo  – enfim o Sr. Destino resolve agir. Faz com que um bem-aventurado bólido de prata faça ali uma parada para que desça um senhor, de grosso sobretudo e chapéu de feltro.

Num impulso, os brasileiros sobem sem saber o que lhes espera.

Deus é dos nossos, dizem – e assim parece ser.

Menos de 10 minutos depois, última parada:

Aeroporto de Zaventem.

Voos internacionais, plataforma B.

Ufa!

Não acreditam que chegaram a tempo.

Logo estão dentro do avião da Swiss Line que os trará de volta à Pátria Amada, salve, salve!

Malas despachadas, trocam risos nervosos de quem aprendeu que definitivamente nem tudo o que parece é.

Viajar é o que há de bom. Mas, voltar pra casa, acreditem, é bem melhor.

 

 

 

 

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