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De tempos em tempos – Parte 5

VIII.

A Menina dos Cabelos Vermelhos me escreve.

Está brava com ela mesma.

Diz que não se perdoa pelo que lhe aconteceu.

Ela acordou, dia desses, com uma baita saudade do ex.

Acho que ela nem gostaria que eu relatasse isso aqui.

Não tenho como escapar.

Sabem o porquê?

Porque foi do email dela que tirei a idéia desta série.

Lembrei de uma internauta que pediu para que eu escrevesse sobre o tempo.

Vejam no que deu.

Já estamos no quinto post – e eu nada disse a Isa, a Menina dos Cabelos Vermelhos ou Levemente Avermelhados, a depender de seus humores/amores.

Então, creio, já é tempo de dizer.

O que sente, Menina, não é exatamente ‘saudades’.

Ou é?

Nunca sei.

Enfim…

Eu chamaria de nostalgia.

Ou seja, a lembrança boa de algo que você viveu num tempo preciso.

Com começo, meio e fim.

A vida é assim.

Bom lembrar.

Bom ter vivido, pois a fez melhor, mais humana.

Iluminou sua existência e a preparou para novos vôos.

Agora aqueles dias – é bom que tenha clareza – você nunca mais viverá.

Simples. Está na canção.

“Nada do que foi será do jeito que já foi um dia”.

É assim.

Poderá — e certamente há de – viver outros sonhos de amor.

Mais intensos, mais envolventes, mais tudo.

Aquele, porém, nunca mais…

Lembro de um amigo que vivia às turras com a namorada.

Amavam-se demais. Brigavam outro tanto.

Por tudo e por nada.

Iam e voltavam.

Um dia, ele chegava transtornado.

Meia hora e um telefonema depois, estava feliz.

Antes do fim do expediente e após sucessão de ligações, terminavam e voltavam várias vezes.

Os motivos eram sempre os mesmos.

Inexplicáveis à luz do bom-senso de quem estava do lado de fora.

Para eles, porém, bastava um deles para que o mundo ruísse.

Certa tarde, o Nasci falou ao desorientado rapaz que armasse uma estratégia.

À noite, convidasse a moça para ir até sua casa e aí fossem às últimas conseqüências na discussão.

Um detalhe.

Antes, ele deveria ligar um gravador e registrar tudo, tudo o que dissessem…

Levasse o tempo que levasse.

Mas, era importante ir da primeira à última questão polêmica – e, se possível, respeitar a ordem cronológica.

Cada um dos contendores – porque já os entendíamos assim, não eram namorados ou coisa que o valha; eram contendores – deveria ficar com uma cópia da fita gravada.

E ouvi-la à exaustão.

Ouvi-la, ouvi-la, ouvi-la…

Só aí formatar uma parecer. Se deveriam continuar juntos ou não.

O motivo era bem simples para nós incautos ouvintes dos telefonemas.

A cada ligação, diminuía o tempo das promessas e das declarações apaixonadas. Em compensação, aumentava substancialmente a carga horária dos xingamentos e das acusações.

E o Nasci fechou a proposta no melhor estilo.

— Se insistirem na teimosia de continuar juntos, ao menos vocês brigam só a briga do dia. Na hora que um de vocês, começar com as discussões passadas é só ligar o gravador porque o bate-boca de vocês é sempre igual. No mínimo, economizam a conta do telefone e a nossa paciência.