A moça do jornal quer me entrevistar. Sobre o 7 de abril, dia do jornalista.
Pode me encaminhar as perguntas ou conversamos por telefone.
Escolho a segunda opção. Mesmo sabendo que, inevitável, usarei o mote desta fala para alimentar o Blog no dia supracitado. Ou seja, hoje.
Primeira pergunta.
“Qual a perspectiva de futuro para o jornalista? ”
Difícil afirmar com precisão. Nesses tempos de amores líquidos e ódios contumazes, qualquer previsão é se arriscar no desconhecido. Mesmo assim, e baseio-me no agora, tenho lá minhas convicções que num mundo afogado em zilhões de informações, é fundamental o papel do jornalista como mediador do debate público e das transformações sociais que se anunciam e são prementes. Como todas as demais profissões, o Jornalismo (este, sim, em caixa alta) vive um momento de transição, seja no modelo de negócio, seja nos infinitos horizontes que se descortinam a partir dos avanços tecnológicos no campo da comunicação. As tais redes sociais, entre outros fatores, transformaram a rotina do ‘fazer jornalístico’. A notícia hoje se dá em tempo real, fragmentada e objetiva. Todo o resto vira um grande cascatol.
“Quais os atributos para o jovem jornalista se manter no mercado? ”
O grande desafio dessa jovem geração é inventar o próprio espaço como profissional de Imprensa. O novo jornalista precisa se entender um autor, e não simplesmente um técnico. Um empreendedor, e não usar o crachá da empresa para qual trabalha na alma. Pensar no coletivo, na equipe, mas não abrir mão de traçar, ele próprio, o caminho que pretende seguir como profissional e cidadão. É fundamental ser apaixonado pela profissão que, não raras vezes, é desgastante e nos propõe, a cada dia, um novo desafio. Outro ponto que dá sustentação a toda a trajetória é ter caráter. Para a defesa dos sacrossantos pilares do Jornalismo (há quem diga que estão em desuso, mas nunca é demais citá-los). A saber: o respeito à verdade factual e as funções crítica e fiscalizadora.
Acho que foi mais ou menos isso o que disse a ela. O que eu não disse – e agora aqui registro – é que, em meio a todo esse contexto, vale contar com a sorte. Pois, como bem ensinou Nelson Rodrigues:
“Com sorte você atravessa o mundo, sem sorte você não chega ao outro lado da rua”.
*NOTA DO BLOG:
A foto/homenagem que ilustra o Blog é do jornalista Jânio de Freitas, um dos grandes nomes da Imprensa brasileira. Atualmente, tem coluna na Folha de S.Paulo.