Da janela, vejo o casal que caminha pela improvisada pista de Cooper em que se transformou a avenida atrás do prédio onde moro. Eles vão e voltam inúmeras vezes. A via tem lá seus 500 ou 600 metros, se tanto. Na pior das hipóteses, vão demorar hora e tanto para cumprir os quatro quilômetros, necessários e recomendados para lhes garantir saúde e bem estar.
São imagens esmaecidas e distantes. Como já lhes informei aqui mesmo, moro no 19o. andar. Portanto, só distingo seus vultos em constante vaivém.
Algo me diz que, no lugar de ficar aqui a bisbilhotar passantes, deveria estar lá embaixo a me exercitar. Desde quinta, me trancafiei, por vontade própria, no apartamento. Saí eventualmente para buscar uns DVDs, com filmes de Clint Estwood, e comer um lanche numa lanchonete aqui perto. De resto, dei uma geral nos antigos recortes de jornal, comecei a ler A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, e assisti a todos os jogos das eliminatórias que pude na TV.
Por opção, desliguei o celular e só venho à net para os posts diários – que isto, vocês sabem, para mim é sagrado.
Há quem veja, neste espontâneo retiro, sintomas do tal "inferno astral" que, dizem, todos vivemos semanas antes do nosso aniversário. Talvez. Certa vez, entrevistei o Oscar Quiroga, que escreve os horóscopos em O Estado, e ele me falou algo que faz sentido.
Vou tentar traduzir com as minhas palavras.
Inferno astral não significa que algo de ruim vai acontecer a você nesses dias. Na verdade, é um período em que as pessoas se voltam para elas mesmas para um balanço do ano que passou. Do que fizeram e, sobretudo, do que deixaram de fazer. Se estão num ano de realizações, nem se dão conta do momento. Se empurraram o ano com a barriga, cobram a si próprias do que não fizeram e, mesmo inconcientemente, não ficam bem com elas próprias.
É isso. Ou quase isso…
Ele explicou também: depois que comemoram o aniversário vivem um novo período e imaginam realizar tudo o que até então não realizaram. Quando não, deixam esses projetos para trás e partem para novos rumos.
Quase sempre as pessoas ficam no mesmo lugar, como eu nesses dias de estio. Mas essas sensações – percebam – fazem uma bruta diferença.
Por isso, vocês que me perdoem, mas vou deixa-los. Vou procurar meu velho par de tênis e juntar-me ao casal desconhecido no ir e vir da avenida. Tenho até um motivo para começar a conversa: o tema do post de hoje.
Ué, cadê eles?
Já se foram…
Agora que eu estava íntimo das figuras.
Depois dizem que sou preguiçoso.
Não vou ficar andando sozinho pra lá e pra cá.
Fica pra próxima.
Quem sabe tem futebolzinho esperto na TV…