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Dias tristes como o de ontem…

O professor e escritor Rubem Alves é um dos meus referenciais de leitura. É um sábio na arte de viver e de tentar entender melhor esses atribulados dias que correm. Em recente palestra, para divulgar o novo livro Cantos do Pássaro Encantado, foi de uma sinceridade acachapante. Falou que se percebeu “um homem velho” quando a jovem esposa de um médico amigo seu veio cumprimentá-lo num encontro social. No exato instante em que ele se preparou para levantar-se da poltrona em que estava para recebê-la, ela fez um gesto carinhoso com as mãos, como a dizer:

— Por favor, não se dê ao trabalho.

A moça não verbalizou a reverência à idade, mas ele entendeu tudo.

II.

Cá do meu canto, e modestamente, penso que outra forma de flagrar o tanto que já percorremos na tal longa e sinuosa estrada da vida se dá em dias como o de ontem. Ou seja: quando nos chega a notícia de uma tragédia como o desaparecimento do Airbus da Air France como 228 passageiros a bordo em pleno voo Rio-Paris.

Além da natural tristeza que nos invade – e que, de alguma forma, nos faz próximos do sofrimento das vitimas e de seus parentes – é inevitável que passe pela nossa cabeça um filme de outras ocasiões quando nos sentimos assim.

Daí, se pode ter claro nosso tempo de estrada.

III.

Lembro que estava na Redação – e todos ficamos chocados quando soubemos da morte de Elis Regina em janeiro de 1982.

Viajei para Campos de Jordão no dia 1º de maio de 1994, quando Senna morreu. Não sabia do acidente fatal e procurava um restaurante para almoçar. Estranhei, pois não havia ninguém em todos os estabelecimentos onde entrava. Até que em um deles, com a TV ligada, soube da tragédia.

Ainda era estudante de jornalismo em novembro de 1973. Mal cheguei à USP um amigo veio me contar da morte do cantor Agostinho dos Santos, em um acidente aéreo próximo ao aeroporto de Paris.

IV.

Mas, em minha memória, o fato mais remoto foi o assassinato de John Kennedy em novembro de 1963.

Era garoto ainda.

Jogávamos bola no campinho da rua Piaí, quando o Nescau chegou com a notícia que ouvira no rádio. Ele era da turma dos grandes (ou seja, devia ter entre 15 e 16 anos) e anunciou solenemente:

— Mataram o presidente dos Estados Unidos. O homem do rádio disse que foram os russos e que vai haver outra guerra mundial.

Não lembro se paramos ou não a partida entre o time da rua Muniz de Souza contra o da Albino Barbosa. Mas, lembro que, à noite, quando a turma se reuniu, na esquina da Muniz com a Almeida Torres, o assunto era um só: quando tempo faltava para cada um de nós se alistar no exército.

Morríamos de medo de sermos chamados para a guerra.

V.

Eu era um dos mais tranqüilos.

Tinha onze anos. E, na minha ingenuidade, nenhuma guerra, por mais mundial que fosse, duraria tanto tempo…

FOTO no Blog: Camila Bevilacqua