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Estado de guerra

01. Percebe-se logo. A voz, ao telefone, tem um quê de indignação e clama por justiça e PAZ. Quer que todos entrem nessa luta — pois, na verdade, diz ele, pertence a todos nós. De imediato, avisa: não pede vingança, nem acha correto que as pessoas se armem para dar o troco na mesma moeda. Nada disso. Tampouco combate os que lutam pelos direitos humanos. Seu objetivo — e pede ao jornal que faça esse chamamento — é para que enfrentemos a situação juntos. Façamos uma campanha para que as autoridades ditas competentes não ignore a triste realidade que hoje vivemos, infelizmente. Do jeito que está, não pode continuar. Vivemos em estado de guerra e ninguém faz nada.

02. Esse foi um dos tantos telefonemas que recebemos nesta semana, aqui na Redação de GI. Nossos leitores — assim como todos os paulistanos de bom-senso — estão apreensivos com a escalada da violência na Grande São Paulo. Desde o início do mês, pelo menos dez pessoas foram mortas ou torturadas por assaltantes, mesmo não tendo esboçado qualquer reação. Dois casos no último final de semana ganharam notoriedade nacional e exemplificam, com rigor, o descontrole da situação: a morte da estudante Adriana Ciola, de 23 anos, e do dentista, José Renato Pousada Talan, 25, na madrugada de sábado durante um assalto ao restaurante Bodega em Moema e o assassinato de Rodrigo Fabiano Iandoli, 21, no domingo, quando deixava a namorada na porta de casa.

03. Outras duas mortes, em frente a uma escola na zona norte, confirmam o espectro de que esse quadro de terror se alastra por toda a cidade. Clécio Roberto Bezerra da Silva, l7 anos, e Valtemir Moreira de Almeida, 20, foram baleados por desconhecidos. Um era auxiliar de escritório e o outro feirante. Não há explicações para todos esses crimes. Os cidadãos comuns temem que permaneçam impunes — aliás, como tantos outros, perdidos nos escaninhos de nossas delegacias.

04. Para mudar esse contexto — e principalmente chamar a atenção do Governo Mário Covas que parece alheio à questão –, parentes e amigos de vítimas da violência em São Paulo prometem lançar amanhã uma campanha, denominada Reage São Paulo, para combater a criminalidade na Capital. A missa de sétimo dia, em memória de Adriana, será o marco inicial do movimento. Será, às 14h30, na igreja do Perpétuo Socorro em Pinheiros. As pessoas estão sendo convidadas a vestir branco e a usar fitas da mesma cor nos carros.

05. Trata-se, na verdade, de um pedido de paz silencioso. Que chama a atenção para a violência que atinge a todos nós. Nosso objetivo é fazer com que a sociedade se mobilize e exija providências para garantir a segurança da população – esclarece Albertina Café Alves, tia de estudante e uma das idealizadoras do movimento. A Rádio Bandeirantes vem divulgando a campanha, que conta com apoio de diversas entidades populares, publicitários, donos de bares e comerciantes. Renato Francisco Iandoli, pai do estudante Rodrigo, garantiu sua adesão, num depoimento comovido. Ele conclui: "Não traz meu filho de volta, mas, certamente, vai evitar que outras famílias sofram".

06. Enquanto isso, o secretário Fábio Feldmann anuncia a intenção de implantar o rodízio de veículos por quatro meses — de junho a setembro — no próximo ano. Isso é que é sintonia com os anseios populares. Certamente, ele não tomou conhecimento do corregedor da Polícia Judiciária, José Galvão Bruno:
O Estado e a polícia estão falidos. O cidadão comum está desprotegido e sua única saída é rezar. Estamos todos nas mãos de Deus.