Replico hoje o texto que escrevi há cinco anos, numa manhã de fevereiro. Na noite daquele dia, meu filho colaria grau como jornalista, o que motivou a coluna que então assinava semanalmente em Gazeta do Ipiranga. Hoje, vou postar a crônica porque o moço faz 27 anos e o mundo pouco – ou nada – mudou desde então. Fica, portanto, a homenagem ao Filho Maravilha, como diz a canção do Benjor que eu e ele tanto gostamos.Fica também o alerta para a garotada que me lê agora no blog: "Tomara essa geração possa resgatar essa promessa de vida chamada esperança".
PROMESSA DE VIDA…
"O homem é aquilo em que acredita" (Antônio Checkov)
01. Repare: sempre estive ao seu lado mesmo que não tenha se dado conta dessa, digamos, por vezes, incômoda presença. Ao contrário do que possa parecer às pessoas que nos cercam, você é a luz e eu a sombra que lhe acompanha curiosa pelos horizontes que se abrirão a cada nova esquina, esquinas onde sol bate e se inclina para a vida. É assim e sempre será…
02. Por isso hoje quando cola grau como jornalista, com direito a canudo e beca, me perdoe a indiscrição. Mesmo você que é tão calado há de reconhecer: não poderia ser outro o tema dessas linhas, com a anuência do meu estimado e fiel leitor. Até porque, filho, por extensão, é uma forma de mandar o recado a todos jovens que, como você, orbitam pelos 20 anos e têm, desde já, a responsabilidade de virar esse jogo.
03. A coluna serve como uma méa-culpa da minha geração e a possibilidade de refletirmos juntos sobre novos caminhos para essa maltratada Terra Brasilis, de tantos e tão poucos. Tantos sonhos, tantos recursos, tantas possibilidades e tão poucos fazeres, tão poucas realizações, tão poucos brasileiros plena e legitimamente felizes.
04. É quase uma heresia falar de poucos brasileiros felizes três dias depois dessa invejável explosão de contentamento e euforia que é o carnaval. Que país não gostaria de ter a alegria do brasileiro? Parodoxo dos paradoxos. Convenhamos, a realidade é muito diferente; quer dizer, é muito pior.
05. Li em recente artigo que o número de excluídos no Brasil chega na humilhante casa dos 53 milhões; de miséria absoluta — ou seja indigência — quase 20 milhões. São sem-teto, sem-terra, sem-emprego. Aqueles que alguns autores também chamam de desvalidos, mas, na verdade, são os brasileiros que mais precisam do vigor e atenção dessa moçada que sai das faculdades.
06. Sempre foi assim, e sempre será… São os jovens que, com suas indignação e força, fazem e acontecem para que venham as mudanças. Ademais, filho, ninguém se forma jornalista impunemente. Há a responsabilidade social de se construir um País melhor, um povo mais feliz.
07. Claro que gostaria de lhe passar o bastão de uma forma mais tranqüila. Com um Brasil (um mundo) menos problemático, violento, repleto de paz e amor — aliás, como pregávamos, eu e outros tantos, quando tínhamos a sua idade. Fizemos o que pudemos, creia. Alguns, mártires, deram a vida pelos ideais democráticos. Outros, como eu, dentro das muitas limitações, batalharam a luta silenciosa do dia-a-dia.
08. Chegamos à democracia, mas não conseguimos a justiça social. Escolhemos o presidente, mas os eleitos frustraram nossa expectativa. Soubemos modernizar o País, mas não tivemos noção do quanto custaria para a maioria da população essa pseudo globalização, com direito a Big Brother e outros tantos lixos culturais.
09. Queríamos mais, esteja certo. Idealizávamos uma sociedade igualitária. Sem miséria, fome, violência. Mas, não sei aonde foi que os sonhos e os ideais se perderam. A bem da verdade, esta é uma sensação de vazio que têm todos aqueles que estão nos arredores do 50/60 e lutaram o bom combate. Que bom que você e sua turma vêm por aí. Tomara possam resgatar essa promessa de vida chamada esperança…. Bem-vindo à batalha, filho.