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Já era… (3)

Pois então…

Assim pensávamos todos.

— Eles já estão na prorrogação. Não tarda e é fim de jogo, fim de caso.

Quem poderia contar com as estranhezas do futuro?

Uma bela tarde Paula chega à Redação com duas novidades que se espalham entre nós como rastilho de pólvora. São bombásticas.

A primeira.

Vai pedir demissão. Preferiria ser ‘mandada embora’ assim levantaria o Fundo de Garantia.

Essa grana chegaria num bom momento. Vai precisar e muito.

Em três meses embarca para Paris, onde pretende ficar um tempo. No mínimo, dois anos. Sua matrícula fora aceita na Sorbone para um curso de extensão em Sociologia Política – esta era a segunda novidade.

Felicitações e lágrimas marcaram aquela tarde.

Paula foi dispensada do aviso prévio e aquele dia mesmo se despediu da gente.

Óbvio que Bebeto, algo desarvorado com a notícia, pediu que eu o substituísse naquele ‘fechamento’ e a acompanhou até sua casa, onde – imaginamos – discutiriam a relação, passariam a régua, fechariam a conta.

Nada disso aconteceu.

O baque da separação próxima – e inevitável… Ninguém em sã consciência abriria mão de uma oportunidade como a que se apresentava a Paula em meados dos anos 80.

Como dizia, o baque da separação fez ressaltar o sentimento que ambos sentiam –e que era real. A partir daquele dia, os ‘pombinhos’ voltaram a arrulhar como se não houvesse amanhã. Falavam ao telefone dezenas de vezes ao dia – e olhe que ainda não havia a comodidade invasiva do celular. Não deixaram de se amar uma só noite.

Era bonito de se ver…

Logo surgiu o dilema para Paula. Vou ou não vou…

Decidiu ir.

Bebeto tentou dissuadi-la. Haviam se reencontrado. Estavam tão bem. Seriam felizes.

Em nenhum segundo, Paula lhe tirou a razão. Em nenhum segundo, ela titubeou:

— Se tiver que ser, superaremos o tempo e a distância.

E assim se fez…

Um dia antes do embarque, outra vez sobrou para mim a edição do jornal. Bebeto estava sem cabeça para outra coisa. Ficou junto da amada o tempo todo. Ajudou-a nos últimos detalhes. Quando afivelou as malas, teve a sensação que a parte mais bonita da sua vida ficara trancada lá dentro e tão cedo não a reencontraria.

Madrugada de sexta para sábado – dia do embarque – Bebeto levantou-se cuidadosamente e, sem que Paula se desse conta, saiu nas pontas dos pés. Amaram-se tudo. Choraram todas as dores. Não resistiriam – ele e ela – à despedida.

Não havia mais motivo para se exporem a tanto.

Passou a chave por debaixo da porta – não voltaria àquele apartamento, àquela rua, àquela parte da cidade. Com a chave, um bilhete e os versos da canção de João Bosco e Aldir Blanc:

“Vida é fazer todo sonho brilhar.”

AMANHÃ CONTINUA…