Converso com o amigo Portuga sobre jornalismo e jornalistas.
Ele fica impactado em saber que os meus primórdios na profissão se deram dentro da redação do Diário da Noite que, diga-se, já estava naquela fase de ‘o último que sair apaga as luzes (se luzes ainda houverem)”.
– Tu é antigo, hein!
Pois então, explico a ele, é difícil para mim fazer qualquer análise do jornalismo que hoje se pratica sem recorrer aos momentos que vivenciei ao longo de 45 anos de trôpega caminhada.
Para o bem ou para o mal, valho-me sempre da lição que o Marques e o Zé Jofre, minhas primeiras referências na profissão, ensinavam aos jovens repórteres que aportavam naquela outra velha redação, a de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor.
Liçãozinha básica que tanto na universidade como na pós-graduação passou batida, infelizmente. Ou os ditos mestres não ensinaram ou eu perdi a tal aula.
Falo dos três pilares essenciais do jornalismo :
– o respeito à verdade factual;
– a função crítica, independente;
– a função fiscalizadora.
E do objetivo:
– trabalhar em prol do bem comum. Na defesa dos direitos do cidadão e da plena democracia.
Resumo da ópera:
Ser um agente da mediação e transformação social.
Nas palavras do grande Millôr:
“Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.
…
Portuga sabe do meu desalento com os novos rumos da profissão.
Quer me provocar.
Fala que fala das mil e uma que a grande mídia vem aprontando desde antes do Golpe.
Aliás, foi cúmplice, fez parte do esquema.
Atualiza a conversa.
Cita o caso do jornalista da Globo que fazia assessoria para um poderoso banco.
Servia candidamente a dois senhores.
– Tem mais gente nesses esquemas, duvida?
…
Portuga, meu caro, na idade em que estou – e como estou – , não duvido mais de nada.
Mas o jornalismo ainda vive. Acredite, velho camarada.
Mesmo com todo esse desvario, tem muita gente boa fazendo o que tem que ser feito.
Com coragem, talento. E resistência.
Jornalismo, neste momento, é resistência,
Quer um exemplo?
Pois vou lhe dar. A você e aos meus caríssimos leitores.
Leiam:
DOENTE DE BRASIL, reportagem de Eliane Brum, para o El País/Brasil
E depois voltem aqui pra gente continuar a conversa…
…
*Pra salvar o domingo, um velho samba do Cartola:
O que você acha?