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Nicola, taxista e psicólogo

Sabe que até agora não entendi porque
ele achou que eu estava assustada.

Engraçado sempre quis ter essa coragem
para lhe dizer tudo, tudo que ficou — não
digo engasgado porque não foi assim —
por dizer mesmo depois da separação.

Só lhe disse a verdade.

Foi tudo verdade o que houve entre nós.

Esquecer é impossível, mas o tempo
ensina a lembrar sem doer.

Diria que é uma saudade boa, sabe.
Que faz companhia quando
a gente está alegre e quando não está.
Quando a vida é legal e quando não é.

Enfim, acho que ele concorda comigo.

II.

Se há alguma certeza é a de
que vai ser para sempre.

Não vivi toda uma vida para saber.

Mas sou romântica, sabe?

Creio que só existe um único
grande amor. É definitivo e a gente
– os dois – percebe isso.

III.

E depois?

Depois vamos inventando outros amores,
não tão grandes assim.

Acho que há uma letra do Vinícius
(nesse negócio de letra de música, ele
sempre foi bom pacas) que diz:

Uma mulher traz sempre
uma tristeza no olhar.

Quer saber?
Acho que traz mesmo.

É assim que somos.

IV.

Ele ficou surpreso hoje quando
o procurei. Não esperava…

Depois, se recompôs e voltou
a representar o grande sedutor
que sempre foi – e desconfio ainda é.

Não quero uma volta ao passado.
Até porque sei: o passado não volta.

E depois…

Depois, a fila anda.

V.

Só queria saber se ele está bem,
se encontrou seu caminho
ou pelo menos um caminho.

Depois do vendaval, tomei uma decisão.
Faria o meu caminho, sem grandes ousadias,
sonhos ou piruetas existenciais.

Seguiria em frente.
Do "trapo" que virei, acho que
até estou me saindo bem.

De alguma maneira,
continuo acreditando que,
no final, VAI DAR TUDO CERTO.

Se não, não é o final.

VI.

E esse olhar triste; por vezes,
perdido sei lá onde. Talvez num fim
de tarde de sexta-feira quando nos
encontrávamos e éramos felizes…

Quer dizer, esse olhar triste
é só um olhar triste.

VII.

— Moça, chegamos. Rua Antônio Carlos
esquina com a rua Augusta…

Ah, sim, claro.
Estava pensando em voz alta.
Quanto é a corrida?

— Nada, não. Posso usar seu
depoimento para minha tese de
doutorado? Sou taxista e psicólogo…

Pode. Mas sobre o que é…

— Sobre mulheres que amam demais.