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Nó na garganta – Percival de Souza (2)

* Continuação do post de ontem. De autoria de Paloma Minke sobre o trabalho do jornalista Percival de Souza para reconstituir, passo a passo, a trágica morte de Tim Lópes, amigo pessoal de Percival e também repórter investigativo. A íntegra do texto faz parte do livro-reportagem "Nó na Garganta".

Parte 2

São várias as experiências que vem à tona quando Percival é questionado sobre o momento mais marcante de sua carreira no jornalismo. Mais de 40 anos dedicados à profissão lhe proporcionaram momentos memoráveis, como a cobertura para o Jornal da Tarde na Casa de Detenção de São Paulo. Nos anos 70, o jornalista acompanhou a vida e a rotina dos detentos para registrar a história daqueles que lá estavam – na época num total de 6 mil prisioneiros, até então, o maior presídio do mundo. A série de reportagens para o periódico logo se transformaria no livro “A Prisão”. Nos anos 90, o médico sanitarista Dráuzio Varella adotou estratégia semelhante para escrever o seu “Carandiru”.

A relação de Percival com o jornalismo vem desde a mais tenra idade. Com o incentivo do pai, que o presenteava com diversas obras, o jovem incorporou à vontade de ser jornalista, o gosto pela literatura.

Iniciou como contínuo na redação dos jornais “Folha da Manhã”, “Folha da Tarde” e “Folha da Noite”, onde teve a oportunidade de conviver com Ennio Pesce, Henrique Metteucci, Roland Sierra, Neil Ferreira, Murilo Felisberto, José Hamilton Ribeiro, Woyle Guimarães e Ewaldo Dantas Ferreira. Tantos nomes do jornalismo o fizeram encantar-se de vez pela profissão. “Enfiei na cabeça que queria ser, algum dia, um profissional como eles. Era o meu sonho”.

Os primeiros ideais beiravam à utopia.

“Defender a justiça, a equidade, os interesses dessa sociedade carcomida, ser a voz dos calados pelo sistema e as circunstâncias que nos moldam”.

Apesar das dificuldades, Percival mantevem as mesmas convicções da juventude. “Como diria o escritor Victor Hugo, mudei muito, mas sustentei princípios. O autor de “Os Miseráveis” ensinou: ‘troque suas folhas, mantenha intactas suas raízes’. É o que procuro fazer”, diz.

Nas décadas de 60 e 70, enfrentaria a perseguição política, principalmente pelas reportagens de denúncia sobre o Esquadrão da Morte, uma organização composta por policiais, com o objetivo de exterminar “os supostos “bandidos comuns” e “limpar” a sociedade. Além do Esso, recebeu o Prêmio Vladimir Herzog (pelo “Narcoditadura”) e um Prêmio Abril de Jornalismo.

Os perigos da profissão e, principalmente, da área do jornalismo na qual atua, não o desanimam. Para ele, é preciso saber administrar o risco e não há como deixar de sentir o medo. “O segredo é conciliar a racionalidade e emoção, não permitindo que esta sufoque aquela”. Contrariar essa regra fundamental, segundo Percival, pode ser muito perigoso, até mesmo fatal.

“Nós somos, rigorosamente, contadores de histórias. Se algo der profundamente errado, a história não será contada. O risco é, portanto, um marco divisório. Para contar a nossa história, temos que enfrentá-lo e vencê-lo. Nada de super-homem ou mulher-maravilha. Bons jornalistas, apenas, com um pouco de audácia e bastante determinação”.