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O País da Anitta

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– Vivemos no país da Anitta!

Me diz o rapaz que dirige o Pálio em que viajo, desconfio que a título de desabafo.

Ou provocação?

Será?

Depois o pessoal aqui de casa reclama que deixo o carro na garagem para dar meus volteios de Uber sempre que necessito.

Além de ficar livre do estresse ao volante, ainda me oferece, como agora, boas temáticas para o nosso humilde Blog.

Caraca! Nunca me ocorreu tal definição para este descompensado Brazuca do terceiro milênio.

Não sei se concordo com o motora.

Mas, vale a reflexão.

Ele deve ter lá seus quarenta e tantos. Tem o perfil, digamos, conservador. Nem lá, nem cá… E, no carro, prefere ouvir as músicas internacionais da indelével Antena Um.

Não sei se fala em tom de deboche.

Ele reclamava do trânsito pesado, das multas – e do desaparecimento do emprego formal.

Diz que se formou em administração de empresas, numa faculdade paga, mas… e aí?

– Vivemos no país da Anitta! – concluiu.

Pela minha idade e pelo meu jeitão de senhorzinho, o moço deve imaginar que não sou lá – e nem me cabe ser – um inveterado fã da cantora que vive, ao que ouço pela aí, uma fase de popularidade lá na estratosfera.

Mal sabe ele que, pelos meus parcos conhecimentos sobre a ruidosa cantante, creio que não seria de todo mal se ainda fossemos o país do rebolado, do suingue, da alegria e até do empreendedorismo.

(Li não sei onde que, muito cedo, a moça tomou para si as rédeas da própria carreira e a dirige ainda hoje, com rara competência. Inclua-se aí o tal projeto de internacionalização que vai “muito bem, obrigado”.

Somos – ou éramos? – um povo feliz, em essência.

Faz parte do nosso DNA cultural.

Assim o mundo nos reconhece.

Praia, sol, futebol e música.

Fiquemos com nossa identificação no âmbito da música popular.

Há exatos 50 anos – junho de 1969, em pleno tacão de horror do AI-5 e da ditadura – Ben Jor lançou a incrível “País Tropical”, que sacudiu o Brasil e mostrou um precioso retrato de nossa gente.

No ano seguinte, Paulinho da Viola nos presenteou com a extraordinária “Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida” e nos ensinou uma valiosa forma de escapar à tristeza e ao baixo astral.

Caetano, idem, em 76 com “Odara”.

Deixa eu dançar/Pro meu mundo ficar odara.

Gil, no ano seguinte (ou 78?), com “Realce”, quanto mais purpurina melhor.

Os bons ventos da redemocratização chegaram na virada dos anos 80. Foram saudados pela esfuziante “Festa do Interior”, de Moraes Moreira, na voz de Gal Costa.

Enfim…

Como ensinou lá’trás o grande Vinicius de Moraes, é melhor ser alegre que ser triste.

– Tomara, meu rapaz, tomara assim seja, o País da Anitta – respondi, segundo antes de apear do carro, ao bom moço que, imagino, nada entendeu.

Não disse a ele, mas pensei – e guardei para o fecho de nossa coluna de hoje:

É bem mais saudável que o Brasil seja mesmo “o País da Anitta” do que se identifique e deixe proliferar o rancor e o desvario de tantos boquirrotos e odientos que hoje ocupam os mais altos cargos em nossas instituições e governos.

Foto: Divulgação

1 Response
  • VERONICA PATRICIA ARAVENA CORTES
    9, agosto, 2019

    A alegria é uma audácia, insurgência e subversão nestes tempos!

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