Sabe que não estou mais na Universidade – é (foi) minha aluna e quer saber o porquê estou fora.
Óbvio que a pergunta vem pelo zap.
Respondo que não existe um por que, mas vários.
Um dia eu trato do assunto. Por enquanto não é hora.
– Tudo a seu tempo.
Digamos que me dei (ou deram?) um tempo sabático.
– Estou adorando. Clareia as ideias (se é que ainda as tenho).
Ela tecla uma carinha risonha. Aplaude e faz a ressalva que não pode dizer o mesmo.
Diz que está confusa – e “anda muito decepcionada ultimamente”.
…
Acho que a entendo. Se na curva dos 6.7 sinto um profundo desalento com o rumo que as coisas tomam, imagino alguém que acaba de ultrapassar os 20.
Não está nada fácil.
Mas, é muito cedo para fugir da luta, digo a ela e continuo:
Temos batalhas diárias vida afora.
Não venceremos todas.
Mas há que se preservar a lida – e o sonho.
Cético no pensamento, otimista na ação.
Se os atritos e os desgastes que a lida nos traz, muitas vezes, não são de nosso inteiro controle. O sonho, este sim, é de nossa inteira e total responsabilidade.
Sonhar é indispensável.
…
As coisas não vão exatamente como planejou, que descubra o motivo, então
Faça um sincericídio.
Ela com ela mesma.
Agrida firmemente o que for ilusão.
Separe a fantasia do sonho.
E, ao descobrir as causas… Então é hora de investir na solução.
…
– Ah, professor, acho que o meu texto está um lixo.
Sou franco e leal.
Só o Machado de Assis nasceu Machado de Assis. Mesmo assim, imagino, ele se deu ao trabalho.
Faça o mesmo.
– Estude.
Gramática.
Análise sintática.
Técnicas de redação jornalística.
Normas de estilo.
E leia, leia muito…
Jornais, revistas, bons livros.
Os grandes nomes da literatura brasileira, pra começar.
Pergunto:
– O que você leu ultimamente fora da tela do seu celular?
…
Temo ter causado certo espanto à moça como se lhe descortinasse fatos e lendas dos tempos das cavernas.
Tento explicar:
– Posso despertar em você o gosto pela leitura e o prazer idílico de escrever um bom texto. Agora, não há professor, por melhor que seja, que vai lhe incutir o dom da escrita. Esta é uma conquista única, pessoal. E gradativa.
…
Ela se mostra ainda mais espantada. Tecla uma carinha de espanto.
– O problema, então, sou eu?
Arremato:
– Não, o problema não é você. Mas, é seu… Você é a solução. Enfrente-o. Enfrente-se.
…
Dois exemplos.
1 – Se o Ben Jor abandonasse tudo porque sua poesia não tem o requinte, digamos, de sofisticação que a de um Gil, um Caetano, um Chico, olhe que extraordinário artista perderíamos…
2 – Uma frase do grande jornalista Armando Nogueira:
“Jornalista não gosta de escrever, gosta de ter escrito”
Vá à luta!
Foto: arquivo pessoal
O que você acha?