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O post e a crônica – 1

Tenho uma sutil incumbência para hoje – mas, adianto, vou deixá-la para amanhã.

Tentarei esclarecer a diferença entre post e crônica – se é que a tal existe?

Tenho lá minhas dúvidas.

Explico de onde vem o questionamento.

Da repercussão do bendito post/crônica ou o que seja que ontem aqui publiquei.

Sobre a Notre-Dame de Paris.

II.

Encontro logo pela manhã, em minhas andanças diárias, um casal de ex-alunos.

Não me perguntem o nome de ambos, pois não lembro – e, perdoem-me a fraqueza, fiquei sem jeito de confessar o lapso. Espero que eles, ao lerem estas maltraçadas, também me perdoem… Mas, entendam, são tantos jovens em 20 anos de magistério, salas lotadas, nomes e mais nomes que…

Espero que me entendam.

III.

Ao me verem à distância, o rapaz correu para me cumprimentar e foi logo dizendo:

– Aquela igreja tem mesmo ‘uma vibe sinistra’. Quando cheguei lá a primeira vez, senti a mesma coisa. Só que diferente do professor, não voltei mais lá, nem pretendo…

A moça que o acompanhava – e que me pareceu ser sua namorada – divertia-se com o relato.

Ele completou alvoroçado.

– E olhe que fiquei um ano fazendo intercâmbio.

Confesso que, à esta altura do inesperado papo, não havia ligado o lé com o cré do que me dizia o ‘enfant terrible’.

– Sabe o que me aconteceu lá dentro, professor. Fui tirar uma de rezar, ajoelhei e tudo, deixei o celular no banco e, ó, me roubaram o celular.

– Paris não é mais a mesma, professor.

IV.

A tal ‘vibe sinistra’, igreja, Paris…

Só então comecei a me tocar – sou meio lerdinho mesmo, tá? – que o jovem à minha frente falava do que ontem escrevi sobre a basílica de Notre-Dame em Paris.

Fiquei feliz, mas não soube o que lhe dizer naquele preciso instante.

Deixei escapar um:

– Que vacilão!

E a moça, que ostentava uma cabeleireira insólita com mechas de um verde desbotado nas pontas (mas que lhe assentavam muito bem) se pôs a rir ainda mais da desdita do amigo, namorado ou o que seja.

Tentei consertar, mas sem grande engenhosidade:

– O mundo anda mesmo de ponta a cabeça, meu caro.

Também sem sucesso justifiquei que a crônica de ontem nasceu da releitura de um livro e da minha identificação com o que o personagem, Alfredo, vivia, digamos, em termos existenciais.

“Penso que também me defrontei com tais, digamos, inquietações quando lá entrei pela primeira vez…”

V.

Tive a sensação de ele que não se ateve à minha explicação. Porque foi neste momento que me lançou a extraordinária questão.

– Pensei que fosse um post? É uma crônica, é? Qual a diferença?

Como estava ansioso para voltar para casa, para o livro que estou relendo como se fosse a primeira vez “O Vermelho e o Negro”, de Stendhall (aliás, ultimamente a única pressa que tenho é esta, voltar pra casa), sugeri que procurasse a resposta hoje no Blog.

Só que pelo adiantado deste post/crônica ou seja lá o que seja  vou deixar a resposta para amanhã.

VI.

Não sei se o distinto vai gostar das minhas justificativas.

Explico.

Como disse lá em cima, tenho lá minhas dúvidas sobre tal e qual diferença entre um e outra, outra e um. Por isso, serei cuidadoso: vou consultar meus alfarrábios.

Ainda hoje eu o farei, prometo.

Faço também outro alerta para o jovem amigo.

Na hora das despedidas do simpático casal, foi a vez da moçoila de cabelos esverdeados me confessar toda-toda – um tanto distante do rapaz – que havia se identificado mais  ‘existencialmente’ com o post anterior ao da Notre-Dame.

– Aquele, o que se chama ‘Fim de Caso’…

VII

E me sugeriu a trilha de hoje.

– Talvez a canção mais apropriada para acompanhar aquele post/crônica ou o que seja fosse uma antiguinha, “It’s Too Late”. De Carole King. Sabe qual?

Xiiiiii, pensei comigo.

Olha, o vacilo, meu rapaz, olha o vacilo…

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