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O Troféu Don Juan vai para…

O Lira pagava todos os pecados naquela velha redação de piso assoalhado, onde demos nossos primeiros passos como jornalistas. O motivo era simples. Todos tinham (ou dizíamos ter) histórias para contar. Gostávamos de bancar nossas prosas, com pegada e estilo. Especialmente no campo das conquistas amorosas, havia ali quase um campeonato entre nós. Houve até quem pensasse em instituir o troféu Don Juan para quem narrasse as melhores peripécias no gênero.

Única exceção era o Lira.

A esposa Mafalda o trazia num cortado – e, de cinco em cinco minutos, ligava (e nem havia celular) para saber onde estava, com quem estava etc etc…

A bem da verdade, o Lira também não era do ramo. Preferia ficar quieto no seu canto, fazer suas reportagens sobre Variedades e deixar a vida seguir em paz.

De quando em quando, diante de tantos e tamanhos relatos, defendia-se com um longo suspiro e o desabafo.

— Não sei como vocês conseguem.

Quando um ou outro exagerava na proeza, o Lira ameaçava:

— Sou amigo do Lauro César Muniz, o novelista. Ele vai gostar de “apimentar” as cenas da próxima novela das oito com histórias como essas que vocês contam.

Um dia, depois de atender o décimo telefonema do dia de Dona Mafalda, o Lira saiu às pressas da redação. Foi incumbido de dar carona a uma aluna de inglês da esposa. A jovem não estava se sentindo bem. Ia num pé voltava no outro, avisou ao chefete de plantão. Não haveria atraso na entrega da reportagem que estava escrevendo.

Meia hora depois o Lira estava de volta. Pálido e trêmulo. Com jeitão de quem fez bobagem.

E, no entender dele, fizera – e nos culpou:

— Estava a caminho da casa da moça. Na verdade, pouco mais do que uma menina. Vinte anos, se tanto. Quando passamos diante de um drive-in, brinquei com ela. Falei: que tal um drink? Mas, juro estava só brincando…

Todos imaginamos a violenta reação da moça.

Ninguém, em sã consciência, poderia supor o Lira numa enrascada dessas.

— E aí Lira? O que aconteceu?

— Sabem o que ela me disse? “Ah! seo Lira não curto drive – in, não. Sei de um motelzinho mais adiante que é bem mais legal. A gente fica mais à vontade. Vamos, sim…”

Nossos olhos se arregalaram e, inevitável, todos quiseram saber o fim da história.

— Acelerei o carro e deixei a moça na primeira estação de metrô que encontrei. Vocês me metem em cada uma…

FOTO: Caio Kenji