Foi tanta e tamanha a confusão do Festival da Record de 1967 que nem júri, nem platéia atentaram para a delicadeza de “Eu e a Brisa”, de Johnny Alf, em interpretação igualmente sensível da cantora paulistana Márcia.
“Ponteio” (Edu Lobo/Capinan), “Domingo no Parque” (Gil), “Benvinda” (Chico), “Alegria Alegria” (bordão de Simonal que Caetano consagrou como canção) e “Maria Carnaval e Cinzas (de Luiz Carlos Paraná na voz de Roberto Carlos) dividiram, na ordem, os cinco primeiros lugares entre vaias e aplausos.
Como já escrevi em posts anteriores, foram tantas e tamanhas as vaias que até um violão voou pelos ares em direção à distinta platéia, arremessado pelo cantor/compositor Sérgio Ricardo.
No balanço geral, entre vencedores e vencidos, ao que me consta salvaram-se todos. Só a repercussão dos festivais mudou de endereço no ano seguinte, em 68. Transferiu-se da Teatro Record em São Paulo para o Maracanãzinho no Rio Vandré e Chico Buarque e Tom Jobim foram pivô de outra grande polêmica ao defenderem as canções “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores” e “Sabiá”.
Caetano já ficara pelo caminho com a sua “É Proibido Proibir”. Falou barbaridades para a turba uivante enquanto Os Mutantes, que o acompanhavam, tocavam de costas para o público.
“Vocês não estão entendendo nada”, disse entre outras coisas e saiu do palco sendo desclassificado.
Decididamente, esses não eram anos propícios para cantar “a juventude que essa brisa canta”. Só mesmo um autor primoroso, como Alf, se colocaria acima dos modismos e das tensões. Tanto é verdade que hoje, 32 anos depois, a canção permanece intacta e é obrigatória a qualquer antologia que se pretenda digna da grandeza da MPB.
Por que lhes escrevo tudo isso?
Porque hoje Johnny Alf (ou se preferirem Alfredo José da Silva) completa 80 anos. Ele está recolhido a uma casa de repouso em Santo André, onde mora há dois anos convalescendo de uma complicada cirurgia.
Não há qualquer programação preparada para reverenciar a data. Um lamentável e inexplicável vazio.
Recentemente, o jornalista e escritor Ruy Castro tentou acabar com esse silêncio e sugeriu em sua coluna, na página 2 da Folha de S.Paulo: “Os museus da Imagem e do som do Rio e de São Paulo promoveriam palestras e debates sobre o estado de coisas da música popular brasileira quando ele apareceu ao piano de uma boate carioca em 1952 e de como, pouco depois, tivemos a bossa-nova. O próprio Johnny gravaria um extenso depoimento para esses museus. Uma TV produziria um especial a seu respeito. Uma editora lançaria seu songbook. E seus discos, sempre tão difíceis de encontrar, seriam relançados. Mas, não há nada disso programado”
Em compensação aos domingos, no horário nobre da TV, temos a vulgaridade de A Garagem do Faustão. Fazemos a melhor música do mundo. Ouvimos a pior. Ou seja, continuamos sem nada entender…