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Os livros de Jô

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Leio o segundo volume de O Livro de Jô – Uma autobiografia desautorizada, autoria de Jô Soares, com colaboração do jornalista Matinas Suzuki Jr.

Antes que me perguntem, esclareço.

Me diverti muito com o Volume 1, bem mais taludo que este (por volta das 500 páginas que devorei em semana e tanto).

Agora folheio as trezentas páginas do livro atual com idêntico interesse.

Óbvio, tenho Jô Soares em boa conta.

Eu o acho um artista de mil e um talentos – bem além do humorista ou entrevistador que são os que mais conhecemos. Talento incomum também como roteirista, diretor de teatro, ator, produtor, músico, escritor, pesquisador, artista plástico, jornalista, radialista etc e tal.

Jô é um artista raro, de uma cultura também irretocável.

Que é um gordo exibido, sem dúvida!

Ele próprio reconhece isso – e até com algum deboche.

Mas, vamos lá, quem com muito menos não sai por aí todo pimpão a se achar o tal ‘último biscoito’ do pacote.

Enfim…

Como nos ensinou Guimarães Rosa, “pão ou pães é uma questão de opiniães”.

Gosto do Jô.

Mas, não é só esta admiração que me traz à nossa conversa de hoje.

O que mais me entusiasma – tanto no volume 1 quanto no 2 que ainda estou lendo – é a belíssima reconstituição histórica que os autores fazem do Brasil de 50 pra cá. Personagens, usos, costumes, causos, momentos políticos, bastidores da TV, do teatro e da sociedade, a descrição de cidades como Rio e São Paulo e da intrigante vida cultural de então – estes são ingredientes que temperam a vitoriosa trajetória de Jô como profissional e artista. Mais do que isso, levam leitores que, como eu, viveram ainda que humilde e anonimamente esses tempos dourados, a saborear delícias e finas especiarias.

Sabem aquele filme do Woody Allen, Meia Noite em Paris ?

Pois então…

Muitas vezes, durante a leitura, eu me sinto atraído por essa espiral do tempo e, nostalgicamente, revivo situações, sentimentos e cenários inerentes a uma São Paulo que tenho sérias desconfianças não mais existe.

É bem doído, sei bem.

Traz nas entrelinhas ‘a dor das coisas que se perderam’.

Mas, resta o doce consolo e o privilégio de ter vivido aquele momento que era, sim, de radiante encantamento.

Ah, mas havia a ditadura, os horrores, a censura! – alguém há de dizer e eu concordo, lastimo e choro.

Mas, creiam vocês, amigos novos e antigos, mesmo em tempos sombrios, tínhamos um sonho – e não abríamos mão de lutar por transformá-lo em realidade.

Ressalto que era um sonho comum. Desses que se sonha junto. De construir uma sociedade democrática, fraterna, socialmente justa. Havia a utopia de construirmos, irmanados, um Brasil de todos os brasileiros.

Pra encerrar – e não menos importante -, outro bom motivo pra lhes falar dos livros. A fluente narrativa de Jô e Matinas, em várias ocasiões, se afina com as histórias que ouvíamos na redação de piso assoalhado na voz pausada do nosso mestre e guru, o saudoso Nasci.

Acrescento que o Nasci foi produtor da TV Record nos áureos tempos que o Jô também esteve por lá.

-O Jô foi repórter do programa de entrevista do Silveira Sampaio no início da carreira, ali na virada dos anos 50 pra 60.

O Nasci também era um grande contador de causos que viveu ou assistiu. “Nas coxias da TV Record”.

Dizia-se amigo do Zeloni, do Blota Júnior, da comadre Sonia Ribeiro, do Maneco (o autor de novelas Manoel Carlos) e outras tantas e notáveis figuras com as quais a gente volta a conviver no decorrer suave da leitura.

A saudade bate forte, meus caros.

Do que vivi e do que imaginei e gostaria de viver.

– Old times, old times… , como dizia o Nasci.

 

 

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