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Por um triz…

Com uma ponta de apreensão, devido ao recente atentado ocorrido em Manchester (em que morreram 22 inocentes), encaminho e-mail ao amigo Nestor, que mora na Bélgica há muitos e muitos anos.

“Como andam as coisas por aí, irmão? ”

Nestor me responde, pela mesma via, e se apropria do jargão que o saudoso jornalista João Saldanha consagrou em suas colunas sobre futebol e que hoje se popularizou:

“Vida que segue, amigo”.

Insisto:

“Como as pessoas reagem a tamanha brutalidade? Um show para jovens… Um deles estupidamente se explode e mata tantos… Aonde vamos parar?

(Eu sequer sabia da existência desta cantora de nome Ariana Grande e de sua popularidade entre a garotada e os adolescentes.)

II.

Percebo nas entrelinhas da devolutiva que recebo, no instante seguinte, o tom de desabafo do amigo. Confabulo comigo mesmo que, talvez, ele preferisse não tocar no assunto.

Mesmo assim, desabafa:

“Sempre que há uma tragédia dessas por aqui (e infelizmente estão cada vez mais comuns) há uma sincera comoção. Ampla, total. Somos solidários. São perdas que nos atingem duramente. Muito. Depois vem a discurseira dos chefes de estados, dos governantes, dos ministros da Defesa e garantem redobrarão, triplicarão a segurança nas ruas e praças e estádios. Não lhes damos muita atenção, e seguimos vivendo corajosamente. Mesmo que lá, no fundo d’alma, tenhamos a consciência de que tudo está por um triz e pode ser um de nós a próxima vítima. ”

III.

Termino a conversa virtual, com o um pedido divino:

“Que Deus nos proteja! ”

E o agnóstico Nestor despede-se laconicamente:

“Amém! ”

IV.

Uma inquietação ronda meus pensamentos sombrios: por razões distintas (e guardadas as proporções devidas), também aqui vivemos essas aflições, esses desalentos. Seja no campo político, seja no social, seja no risco que nos espreita a cada esquina.

Mas, o que me incomoda mesmo é a constatação feita pelo amigo distante: “a consciência de que tudo está por um triz. ”

Posso imaginar o que ele quis dizer com isso. Mas, não tenho certeza. Mesmo assim achei melhor não perguntar. Para não estragar o resto do nosso dia, da semana, do mês…