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Quem avisa…

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“Quem avisa, pontinhos.”

Era a frase máster do Irmão Sigismundo a nos alertar sobre a tarefa escolar que levaríamos como dever de casa.

Quem não a trouxesse pronta na aula seguinte, perdia consideráveis pontinhos na média final das temidas avaliações mensais. Sem contar o risco de ser excluído do torneio de futebol interclasses, seguramente a principal atração para se estudar no Colégio Marista Nossa Senhora da Glória, no bom e amado Cambuci.

Tenho muitas lembranças desses tempos felizes.

Uma delas, sem dúvida, a máxima do Irmão Sig.

“Quem avisa…”

Ontem, por exemplo.

O Danilo me ligou pela manhã para nos encontrarmos no fim de tarde. Lembrar os bons tempos.

Queria conversar comigo. Saber a quantas ando. Saber do Brasil, do mundo. Sou jornalista, afinal. Sei das coisas.

Sei de nada, não – respondi a ele.

E sequer tenho lá essa vitalidade toda, ir pra São Paulo dirigindo, trânsito na Anchieta ruim pra ir, pior pra voltar, sabe como é? A idade e cousa e lousa e mariposa.

De tanto o amigo insistir – e eu mesmo me cobrar um tantinho mais de coragem e vontade pra tocar esses dias iguais -, decidi ir e fui.

Ficamos ali papeando, entre um café e outro, tergiversando sobre as coisas do mundo e do Brasil.

A cada observação que eu fazia, sentia o semblante do amigo mais e mais combalido.

Da economia que não anda, da subserviência aos interesses internacionais, da Reforma da Previdenssia, de filhos e milícias, do governador ensandecido no helicóptero, do despreparo da Presidência, dos asseclas aloprados, do desmonte das universidades, da divisão nas Forças Armadas, dessa lorota de armarmos a população (o que se esconde de pior por trás disso?), do Congresso cada vez mais guloso, do caos institucional pós Golpe que impichou a Dona Dilma, que não era lá essas coisas, mas era honesta…

Enfim – e por fim…

Ao cabo de tantas e tamanhas, o amigo não se conteve. Não lhe deixei perspectiva alguma, então fez a sábia consideração:

– E eu insisti tanto para nos encontrarmos! Acho que era melhor mesmo não ter vindo.

Dei-lhe toda a razão.

Virei um chato. Um velhinho chato, mas atento.

Tanto que lhe dou o antídoto para todos esses males:

A única alternativa, meu caro Danilo, passa pela coragem e o vislumbre das novas gerações. Desse pessoal que já está na rua, questionando e mobilizado em prol de um Brasil contemporâneo, democrático e onde impere a justiça social.

É a vez deles. Uma luta árdua, e longa e necessária.

Total apoio a eles.

De qualquer forma, valeu o encontro, campeão.

Até a próxima, mas por favor me ouça – e fique atento:

Pois quem avisa amigo é.

 

Foto: Sintespe/reprodução
1 Response
  • clarice falasca
    15, maio, 2019

    Amigo, ando tão chata quanto…mas é melhor do que ser cega, né? Estou contigo, creio no novo. Mas no novo novo!! Não nessa “mixordia”.

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