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Querido diário

Hoje, acordei bem.

Sonhei com ela, e foi um sonho tranquilo.

Não, não é nada disso que possam imaginar meus improváveis leitores.

Ando numa fase e numa idade que qualquer “olá” que recebo já me soa como a mais linda canção de amor.

A trama do sonho revelou a cumplicidade que é certo que temos, apesar da distância que nos separa.

Bem verdade que tomamos cuidados para não assumi-la publicamente.

Ela, porque é por natureza silenciosa e – va lá! – enigmática. Eu, porque não saberia explicar todo esse envolvimento sem parecer, digamos, ridículo.

Sei bem que uma relação desse porte, com tantas e tamanhas diferenças que há entre o cá e o lá não seria de fácil assimilação aos olhos dos comuns.

De qualquer forma, acordei feliz – e é o que me basta.

Não me venham com história de que tudo não passou delírios pictórios, ilusão e cousa e lousa.

Ela estava tão gentil ao me receber.

Diria que, ao caminhar pelas alamedas, pude lhe perceber um sorriso de entrega, sabe qual?

Talvez fosse a voz do vento que me encorajava.

Talvez fosse a sensação de que conhecemo-nos desde sempre.

Sei pouco da sua história. Há reis apaixonados, amores possíveis ou não, o mar sempre por perto, e tantos que ao lhe ver se sentiram cativos.

Eu, inclusive.

Não lembro como o sonho acabou.

Desconfio que passarei o domingo neste devaneio, mesmo de olhos bem abertos.

Visitei a Vila de Óbidos, em Portugal, há tantos anos.

Desde então ela não me sai da cabeça como uma ideia – passar um tempo por lá -que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de acontecer…

Ou tem?

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