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Serena (3)

X.

Dias atrás, encontrei-me com Escova em um daqueles botecos chinfrins do Sacomã para alguns bebericos e, inevitável, reverenciarmos os velhos tempos.

Não sei o porquê lhe perguntei sobre a tal reportagem que, fiz questão de salientar, por desmazelo meu, acabei por não lê-la, e sequer lembro de vê-la impressa.

Escova disse que eu estava delirando.

Nunca fizera reportagem com tema semelhante. Quando muito colaborou, gratuitamente e a meu pedido com O Carpinteiro, jornal da Paróquia São José, que editei ao lado do padre Brito por dois ou três anos.

XI.

O Carpinteiro foi uma gratificante experiência jornalística.

O jornal mensal chegou à tiragem de 100 mil exemplares. Era um prazer fazê-lo ao lado de amigos caros como o próprio Escova, o padre Brito, o Zezinho, a Fernandinha, o Anísio, o Alexandre, a saudosa Rita, entre outros. Mas, não era sobre esse momento que me referia.

“Falo da tal reportagem sobre as tais seitas emergentes que você jurou existir às dezenas na periferia de São Paulo, especialmente nas vilas e jardins que cercam o Ipirangão velho de guerra”, insisti.

Escova continuou balançando negativamente a cabeça em sinal de desaprovação.

Até eu comecei a duvidar do que eu próprio dizia.

XII.

Resolvi forçar a memória do amigo, dando o contexto da história toda:

“Lembra-se que você chegava cedo na redação para adiantar as matérias do dia, e saía quase todas as tardes atrás dessa bendita pauta. Nem para as noitadas com a gente você ia. Ficava preparando as tais entrevistas.”

Escova continuou negando:

– De onde você tirou isso, parceiro. Justo eu, o grande Dom Juan das Quebradas, o Tal e o Qual, me envolvendo com esses carolas. Sem chance.

XIII.

Ao ouvi-lo citar, orgulhoso, o velho codinome de guerra, me veio uma inspiração.

Caiu a ficha, e resolvi jogar o ‘verde’:

“Foi no tempo da Serena, lembra? Aquela moça linda, toda pura, que o pessoal maldava que ela não transava nem com o noivo, e que pertencia a uma dessas religiões rigorosíssimas no quesito sexo antes do casamento. Lembra-se dela?”

Fez-se um silêncio comovedor.

Tive a impressão que todo o boteco entendeu o que de fato acontecera.

Que pauta que nada.

Por ela o cara madrugava na redação e saía, mais ou menos, no horário que Serena também se ia. Por ela, a ausência das nossas noites ruidosas quando sempre se bebia demais, se falava demais. Não havia segredos naquela roda.

XIV.

Escova respirou fundo. Viajou para os confins da alma.

Nada me respondeu.

Nem precisaria.

Seus olhos retomaram o brilho dos tempos idos e vividos.

Diria até – e convictamente – SERENA e muito bem vividos…