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Sérgio Porto. 100 anos

Foto: Reprodução/IMS

11 de janeiro.

100 anos de um de nossos mais representativos cronistas.

Obrigatório e necessário lembrar a obra de Sérgio Porto (1923/1968), o gênio que criou o famoso Festival de Besteiras Que Assola o País – o FEBEAPA, relatos e impressões sobre o Brasil dos anos 60 – e, olaiá. ao que parece de sempre –, publicadas em sua coluna diária nos jornais da época.

Reunidas posteriormente em livros, essas saborosas sátiras da vida real geraram três volumes, de incrível sucesso popular até pelo momento que então vivíamos, de plena ditadura. Às vésperas do trágico Ato Institucional número 5.

Na mesma linha, o jornalista Sérgio Porto (ou o impávido cronista Stanislaw Ponte Preta, como assinava esses textos), também ousou enveredar pela insuspeita carreira de compositor e criou o divertido “Samba do Crioulo Doido”, brincando com a capacidade da ala de compositores das escolas transformar em samba os mais diversos fatos históricos que lhes pedisse o enredo do ano.

Joaquim José, que também é da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo
E se elegeu Pedro Segundo”

Sérgio Porto era craque em criar personagens que o ajudavam a retratar os contrastes nosso cotidiano.

Vovó Zulmira, Primo Altamirando, Rosamundo, além do próprio Stanislaw, forneciam aos leitores de suas crônicas régua e compasso para esquadrinhar o Brasil de então e, tristemente, de sempre.

Sérgio Porto sempre foi uma referência para este insistente escrevinhador.

Se ainda insisto em batucar uma letrinha atrás da outra, tem muito a ver com a inspiração do notável jornalista.

Sei das minhas limitações, no entanto.

Por isso, para melhor entendermos o principal personagem de Sérgio Porto, o próprio Stanislaw Ponte Preta, compartilho a crônica em que o próprio autor se descreve.

AUTO-RETRATO DE UM ARTISTA QUANDO NÃO TÃO JOVEM

ATIVIDADE PROFISSIONAL: Jornalista, radialista, televisista (o termo ainda não existe, mas a atividade dizem que sim), teatrólogo ora em recesso, humorista, publicista e bancário.

OUTRAS ATIVIDADES: Marido, pescador, colecionador de discos (só samba do bom e jazz tocado por negro, além de clássicos), ex-atleta, hoje cardíaco. Mania de limpar coisas tais como livros, discos, objetos de metal e cachimbos.

PRINCIPAIS MOTIVAÇÕES: Mulher.

QUALIDADES PARADOXAIS: Boêmio que adora ficar em casa, irreverente que revê o que escreve, humorista a sério.

PONTOS VULNERÁVEIS: Completa incapacidade para se deixar arrebatar por política. Jamais teve opinião formada sobre qualquer figurão da vida pública, quer nacional, quer estrangeira.

ÓDIOS INCONFESSOS: Puxa-saco, militar metido a machão, burro metido a sabido e, principalmente, racista.

PANACÉIAS CASEIRAS: Quando dói do umbigo para baixo: Elixir Paregórico. Do umbigo para cima: aspirina.

SUPERTIÇÕES INVENCÍVEIS: Nenhuma, a não ser em véspera de decisão de Copa do Mundo. Nessas ocasiões comparativamente qualquer pai-de-santo é um simples cético.

TENTAÇÕES IRRESISTÍVEIS: Passear na chuva, rir em horas impróprias, dizer ao ouvido de mulher besta que ela não tão boa quanto pensa.

MEDOS ABSURDOS: Qualquer inseto taludinho (de barata pra cima).

ORGULHO SECRETO: Faz ovo estrelado como Pelé faz gol. Aliás, é um bom cozinheiro no setor mais difícil da culinária: o trivial.

Assinado, Sérgio Porto, agosto de 1963.

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