A propósito e depois de me emocionar ao assistir o documentário “Simonal. Ninguém Sabe o Duro Que Dei”…
Ao encerrar esta minissérie sobre Wilson Simonal, quero fazer um post/homenagem, se me permitem, a três nomes que foram fundamentais para consolidação da MPB a partir dos anos 60, quando surgiram. São: Benjor, Jair Rodrigues e o próprio Wilson Simonal.
Eles foram os responsáveis pelo grande arcabouço de pretitude (como diz a cantora Sandra de Sá) que embala e sacode todas as correntes da dita música pra pular brasileira (aqui, a expressão é de Nélson Motta); em resumo a síntese de nossa principal manifestação cultural.
II.
Dá para entender? Ou está viajandão…
Tento explicar melhor.
Os três intuitivamente funcionaram como uma espécie de filtros para as tendências que vieram antes deles. Usaram a pedra filosofal do raro e natural talento de cada um para posteriormente devolver ao público um som único que funde os mais diversos, latentes e apaixonantes gêneros musicais.
III.
Percebam.
Se um extraterrestre ouvir “Mas Que Nada” hoje seguramente dirá, lá no idioma deles e se for um E.T. antenado, que a música foi feita ontem, tamanha a modernidade de ritmo e letra. O baticum de Benjor é de 61/62. Ou seja, está batendo nos 50 anos de vida – e continua atual. A canção tem elementos de bossa-nova, samba e raízes africanas e universais, como diz o próprio autor.
Desconfio que seja a música brasileira mais tocada no Exterior. Não houve uma vez que viajei para os estranjas e deixei de ouvir alguma versão do samba-afoxé de Benjor. Tocou na estação do metrô de Paris, no sistema de som da loja de roupa na Costa Malfitana, no rádio do carro alugado pelas estradas da Normandia, no reveillon em Évora. Oba, oba, oba.
IV.
Jair é o sambista que se fez intérprete de respeito ao transformar “Disparada” numa canção épica. Antes disso, cantou samba com as mãos e precedeu o rap em “Deixa Que Digam, Que Pensem, Que Falem”. Fez dueto único com Elis em “Dois na Bossa” e levou a então jovem MPB para a televisão. Até então circunscritos aos circuitos universitários, novos talentos, como Caetano, Gil, Chico e toda esta geração, puderam chegar ao grande público na fase áurea dos festivais da Record.
O sambista pôde, então, subir aos palcos com dignidade; não mais como representante da marginalia.
V.
Simonal era extraordinário cantor. Traçou todos os gêneros musicais com elegância, e requinte. Transformou uma canção do folclore em hit nacional, “Meu Limão Meu Limoeiro”, e fez a platéia do Maracanãzinho cantá-la em diversas vozes. Inventou o Patropi e fez a turma sorrir e acreditar, num tempo triste. Seu dueto com a diva Sarah Vaughan em “The Shadow Over Small”, que está no documentário e circula na web, mostra bem do que estamos falando. Vai ficar para a posteridade.
Podem acreditar, meus caros, nada que hoje se faça em termos de música negra, em algum momento, bem antes, passou pela cabeça desses três notáveis artistas…
PS:- Reitero aqui: o grande artista que foi Wilson Simonal está em cartaz nos cinemas da cidade, com o documentário “SIMONAL. Ninguém sabe o duro que dei”, de Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal.