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Sobre a Taça Júlio Botelho…

— Este aí viu o Julinho jogar. Viu ou não viu?

O senhorzinho de cachecol e boné de lã subia as escadas das arquibancadas do Pacaembu ao lado de um rapaz que me pareceu ser seu filho ou neto (poderia ser seu sobrinho também). De repente, descobriu um desconhecido, contemporâneo seu, e tascou a pergunta, assim, na lata.

Demorei a entender de quem o homem falava – e o que exatamente acontecia.

Estava quieto no meu canto, num dos lances do acolhedor estádio, à espera que começasse a partida entre Palmeiras e Fiorentina. Nem sei o que pensava.

Só depois entendi que meus ralos cabelos brancos, a barba por fazer e os óculos na ponta do nariz entregaram a minha idade e a angústia do palestrino falante.

“Este aí” era eu.

— Viu ou não viu o Júlio Botelho jogar?

Júlio Botelho? Um dos grandes nomes da história do meu clube do coração. Começou na Portuguesa, foi para a Fiorentina e voltou para o Palmeiras para ser super campeão paulista em 1959 (diante do Santos de Pelé & Cia) e dar sequência a uma inesquecível trajetória vitoriosa do Verdão, com auge na consolidação do slogan Academia de Futebol.

— Julinho, Servílio, Tupãzinho, Ademir da Guia e Rinaldo. Viu ou não?

Claro que vi. Aliás, agradeço aos céus por ter visto.

Então, foi minha vez de mostrar erudição palestrina.

Citei o time de 1959: Valdir, Djalma Santos, Valdemar, Aldemar e Geraldo Scoto, Zequinha e Chinezinho, Julinho, Américo, Nardo e Romero.

O homem se emocionou. Apontou para um dos gols do velho estádio Paulo Machado de Carvalho e disse:

— Foi ali o gol do Romero de falta. Dois a um. Palmeiras campeão.

A partir daí (nem é preciso dizer, mas digo) o fio da memória se desenrolou e invadiu a galeria de velhos ídolos do Palmeiras, de jornadas épicas, títulos conquistados, lembranças, lembranças, lembranças.

Vou lhes dizer, amigos e fiéis leitores, que eu e o desconhecido, quando nos demos conta, estávamos com a voz embargada e limpávamos os olhos a disfarçar nossa saudade.

– E este aqui, disse apontando o rapaz ao lado, está triste porque o Valdívia foi embora. Pode?

Poder pode, mas não é justa com a história do Palmeiras.

*Na quarta-feira à noite, o Palmeiras deu início à celebração do centenário do clube com o jogo frente ao Fiorentina, pela Copa Euroamericana. As equipes acordaram aproveitar o encontro para por em disputa a Taça Júlio Botelho. O Palmeiras venceu por 2 a 1.