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Sobre o primeiro de maio

“Quem visita a cidade de Chicago, nos Estados Unidos, encontra uma frase gravada em um monumento: Chegará o dia em que o nosso silêncio será mais poderoso do que as vozes que vocês estrangularam hoje. Ele foi erguido em memória de uma greve que começou no dia Primeiro de Maio de 1886, exigindo a redução da jornada de trabalho para oito horas por dia, tocada por trabalhadores que foram chamados de vagabundos. Resultado: a polícia abriu fogo contra a multidão três dias depois, mas a data foi escolhida para ser um dia de luta em todo o mundo por condições melhores de vida. Menos nos Estados Unidos, em que o Labor Day é na primeira segunda de setembro.

Só o trabalho gera riqueza. E o silêncio de trabalhadores, que se reconhecem como tais, percebem a injustiça que, muitas vezes, recai sobre eles e resolvem cruzar os braços, não apenas aumentou salários ou criou aposentadorias, mas já ajudou a derrubar regimes, a democratizar países, a mudar o rumo da história.”

*(Blog do Sakamoto)

II.

Um amigo querido, e distante, que ultimamente só sei dele via whats, me propõe uma reflexão:

“Mês de abril! 10 dias de final de semana. 3 dias de feriados. Um dia de greve geral. Total: 14 dias de pouca ou nenhuma receita! Mas, no fim do mês, o empregador tem de arcar com o mês completo de salário!!! Parabéns para quem tem coragem de empreender neste País!”

De uns tempos para cá, tenho notado um certo furor à direita nas mensagens do meu irmãozinho, parceiro em tantas jornadas pela redemocratização do País.

Estávamos juntos ali. Por que estaríamos erm lados opostos agora?

Quem mudou?

Resolvi devolver a provocação (coisa que raramente faço) e teclei:

“Virou patrão, meu caro? Que que é isso, companheiro. Que discursinho mais Fiesp é este? Lembra o velho Marques, o Zé Jofre, saudosos amigos; nossas conversas, e a máxima que professavam: “Patrão bom nasce morto!”. Quanta saudade daquelas memoráveis discussões?”

A resposta veio em seguida:

“Pois é, amigo. Depois de velho, por não ter aposentadoria, precisei abrir uma empresa que trabalha com energia solar.Estou dando um duro danado para sobreviver.”

Escrevi então:

“Contribuo com a aposentadoria há 44 anos, estou aposentado e continuo no batente. O que recebo de benefício não paga sequer o plano de saúde.”

E acrescentei:

“Esses caras, os endinheirados, o tucanato, a Fiesp, os bem-nascidos, nunca olharam para nós. Nunca respeitaram os nossos direitos…”

Surpresa. Ele concorda com o que eu disse:

“Jamais olharão, Rudi. Jamais… Eles se julgam acima do bem e do mal. Têm os narizes empinados. Mas assim é a vida. Vamos viver, amigo… Vou defender o meu lado.”

Rudi, eis como me chamavam na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor. Havia outros: Big, Peninha, Uspiano… Eram os mais generosos, digamos assim.

Terminamos a conversa teclada, combinando um almoço para um dia incerto do futuro.

Somos sobreviventes de um período de luta e de sonhos. Que hoje estão em lados opostos. Mas, que continuam amigos. Distantes, sim; mas amigos…