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100 anos de Caymmi

Para o menino Tchinim, Dorival Caymmi era uma voz no rádio em que a mãe ouvia a novela e o pai o jogo de futebol. Entre uma novela e outra, um jogo e outro, havia os programas de música – eram mágicos. Tchinim, então, se divertia com a história do homem que não tinha “onde morar”, por isso morava “na areia”.

A ideia era ótima.

Na imaginação do menino, devia ser legal pra caramba morar na praia, em frente ao mar.

O cantor do samba também lhe parecia um bom sujeito. Dedicado que só. Imagina! Na mesma canção, confessava humildemente que Maria (devia ser a namorada), morava “com as outras” e quem pagava o quarto era ele.

Bom sujeito, esse tal de Caymmi.

II.

Mais crescidinho, Tchinim aprendeu a letra de “Maracangalha” e gostava especialmente daquela parte que falava do “uniforme branco” e do “chapéu de palha”.

O menino queria ser marinheiro – mesmo sem saber nadar, o que, aliás, não sabe até hoje – e pensou que a letra falasse de algum marujo apaixonado, de farda branca.

Não entendia, porém, o chapéu de palha.

( Marinheiro usa quepe ou aquele boné esquisito sem a aba da frente.)

Foi tirar a dúvida com o avô Carlito que era chapeleiro no Ramenzzoni.

O avô riu e disse tratar-se de “liberdade poética” do autor. Que o tal uniforme branco era, na verdade, uma roupa branca qualquer porque a cor caracterizava os malandros cariocas. Mas, também podia ser uma fantasia para sair em algum cordão no Carnaval. Quanto ao chapéu, o avô não hesitou. Caymmi se referia, na verdade, ao chapéu panamá, outra das marcas registradas da malandragem.

O vô Carlito sabia das coisas…

III.

Tchinim cresceu, virou jornalista – e ninguém mais o chamou pelo apelido de infância.

Dorival Caymmi, então, passou a ser referência sempre citada nas entrevistas que fez com Caetano, Gil, Gal e os filhos do autor – Nana, Dori e Danilo.
Foi a partir desses depoimentos que o jornalista se aprofundou na obra do compositor baiano que neste mês completaria 100 anos.

Aliás, o panteão sagrado da MPB tem outros centenários importantes neste 2014: Vinicius de Moraes, Araci de Almeida, entre outros que serão assuntos do Blog futuramente.

Por enquanto, em pleno baticum do Carnaval, vale referenciar Caymmi – cantor/compositor que abriu ouvidos, olhos e o coração do Brasil para o som e as cores da Bahia. Inventou a baianidade. E nos ensinou a revirar "os olhinhos" e a nos sentir um pouquinho "filhos de São Salvador".

*Inspirado no texto que aqui publiquei em 16 de agosto de 2008. Ah!, o vô Carlito também completaria 100 anos neste ano.