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De ilusão já não se vive…

01. O governo brasileiro vive uma crise de identidade. Durante esses quase três anos vem professando a chamada causa pública quando se dirige aos meios de comunicação e, portanto, para as grandes massas que vão eleger nossos novos mandatários em 98. Mas, toda vez que precisa tomar uma iniciativa, não consegue ir além do torniquete econômico social tão ao gosto dos homens que servem aos ministérios do Planejamento e da Fazenda.

02. Veja a fala de quarta-feira do ministro Pedro Malan. Disse ser contra as "bravatas nacionalisteiras" e reafirmou que, se preciso, o país vai fechar um acordo com o Fundo Monetário Internacional, sem maiores constragimentos. Essa afirmação bate de frente com o parecer do presidente do Banco Central, Gustavo Franco. Um dia antes, falando ao jornal argentino "Clarín", Franco descartou essa possibilidade, pois significaria "perda de soberania" para o Brasil.

03. Após os desencontros verbais, Malan e Franco negaram que haja qualquer tipo de divergência na equipe econômica e que tudo não passou de uma "briga fabricada" pelo mercado para tentar inviabilizar as partes envolvidas…

04. A bem da verdade, a crise das bolsas internacionais colocou a pique uma situação de encantamento com os próprios feitos que o atual Governo insistia em anunciar sempre que se via em palanques ou frente a algum microfone. Citava a estabilização da Economia, a taxa de câmbio e o preço da cesta básica como indicadores de um Brasil mais justo, voltado para os mais humildes, os desvalidos, aqueles que nunca tiveram ninguém a lutar por eles. Claro que falava também dos olhos firmes a encarar o futuro e, mercê da reeleição, projetava o Brasil como uma nação promissora neste limiar do terceiro milênio. Mas, um Governo tão firme, decidido e clarividente (sic) saberia como contorná-los e vencê-los…

05. Pena que esse discurso altaneiro nunca foi além. Em quase todas às vezes que FHC e sua trupé precisaram baixar uma medida ou priorizar uma questão não houve escapatória. Sobrou para todos os segmentos da sociedade, especialmente para os setores de produção e comércio e para os trabalhadores a cada dia mais e mais ameaçados pelo desemprego. A Economia vive agora em compasso de espera. É uma questão de dias (semanas talvez) para que a taxa de câmbio caia para o seu verdadeiro patamar. A crise social agrava-se e só mesmo o tal espírito natalino pode "salvar" o final do ano de uma hecatombe maior…

06. Ah! mas ano no que vem teremos carnaval, copa do mundo e eleições… E tudo estará a salvo. Fique atento, caro leitor. Ao contrário do velho dito popular, de ilusão já não se vive…

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