"Torcida amiga, bom dia!!!"
01. Era com a frase acima que o jornalista Ary Silva começava a coluna de esportes que diariamente abria as páginas de esportes do Diário de São Paulo, famoso vespertino de Assis Chateaubriand. Era um tempo em que as pessoas almoçavam em casa e, todos os dias, esperava meu pai chegar para a bóia com o jornal dobrado embaixo do braço. Queria saber o que o mestre dos comentaristas tinha a dizer sobre o fascinante mundo do futebol. E mais: sempre que podia, acompanhava sua opinião abalizada pelas transmissões esportivas da TV Tupi, também de Chatô, onde dividia microfones como cobras do jornalismo da época — Geraldo Bretas, Maurício Loureiro Gama, Carlos Spera e o inconfundível repórter Tico-Tico que, por sinal, era aqui do Ipiranga…
02. Aos olhos do garoto embevecido pelas coisas da bola, o nome de Ary Silva tinha peso de verdade. Essas verdades que de tão absolutas, mesmo no imprevisível planeta do futebol, são definitivas, dogmáticas.
03. Aliás, o pai, em conversas com os amigos, sempre referendava os propósitos de Ary Silva com argumento irrefutável: o homem havia participado da comissão de especialistas que o doutor Paulo Machado de Carvalho convocou para traçar o planejamento da seleção brasileira que participou e venceu o Mundial de 58 na Suécia. Era um exemplo de sensatez, ética e justiça.
04. Já homem feito, jornalista de Gazeta do Ipiranga, conheço um outro Ary Silva: líder comunitário atuante, depois de um breve período como vereador por São Paulo, mas principalmente diretor-presidente de A Gazeta da Zona Norte, jornal de sua propriedade, que chamava paternalmente de A Menina, e que brigava pelos interesses de Santana (onde sempre morou) e região.
05. Assim como fizera em seus tempos de comentarista ao fundar e ser o primeiro presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo, o gênio empreendedor de Ary também criou a Associação dos Jornais de Bairro (AJORB) ao lado de outros pioneiros como Durval Quintiliano (à época a frente da Gazeta de Pinheiros), Armando da Silva Prado (Gazeta de Santo Amaro) e Araci Bueno (Gazeta do Ipiranga). Foram os precurssores dessa realidade vitoriosa que hoje é a imprensa regional na Capital.
06. Mesmo atuando em campo diferente, ao longo desses anos, Ary continuou a ser exemplo de sensatez, ética e justiça. O jornalista morreu na sexta, dia 6, aos 84 anos. E o País perde um referencial de virtude e honestidade. As boas lições de Ary vão nos fazer muita falta…