"O homem que não sabe parar não sabe agir" (A. Bloy)
01. Olhe o calendário. Repare que dia é hoje: 1º de junho. Ou seja, já estamos a quase meio ano dos sonhos, promessas e conquistas que, invariavelmente, todos nos propusemos a realizar quando espoucaram os champagnes do reveillon deste que é o primeiro ano do milênio.
02. É sempre inquietante reparar na implacável ação do tempo. A semana, aliás, parece ter dado o tom melancólico da coluna. A constatação, porém, se faz inevitável: apesar das idas-e-vindas, tudo continua como está, o que significa dizer estagnado…
03. O leitor já percebeu onde essa conversa vai dar. É óbvio, na renúncia de ACM e o que o gesto representou para o país. Fez-se um barulhão por nada. Um dos monstros da política brasileira caiu de pé. Falou, falou, falou por hora e tanto. Insinuou, ameaçou — e nada disse de relevante. De concreto mesmo, só o recado à la Vanderlei Luxemburgo: Eu voltarei…
04. O escândalo do painel do Senado, hoje, é mais uma página que se virou. A única certeza que se tem (se é que se pode ter alguma…) é que, para o pleito de 2002, ACM e FHC não vão dividir o mesmo vatapá. E o tucanato vai enfrentar verdadeiramente a primeira eleição presidencial sem a benção do painho. Quer dizer: fim da grande aliança de centro-direita que sustentou até aqui o Governo FHC.
05. Por falar em FHC, de novo o homem saiu ileso de todo o imbróglio do Senado. Antônio Carlos Magalhães bem que tentou enredá-lo, em vão. E aí volto no tempo (que, aliás, deu tom da conversa de hoje): há seis anos, quando se formou a dobradinha de tucanos com pefelista, não faltaram rumores de que FHC seria um mero fantoche nas mãos do velho político, senhor de todos os poderes na Bahia e se fez presente em todos os governos desde os idos tempos ditatoriais. ACM seria a eminência parda dos gestos, palavras e obras do governo federal.
06. Ninguém em sã consciência poderia supor que, em determinado momento, o grande-líder pudesse ser isolado no próprio habitat, o Senado, e descartado sumariamente pelos tucanos. No entanto, em política, assim como em relação ao tempo, é preciso estar atento ao efêmero e às mudanças dos ventos… Vale lembrar a velha máxima: o vento que sopra aqui é o mesmo que sopra lá.