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A casa caiu

"A experiência é como um carro a trafegar numa rodovia às escuras, com os faróis voltados para trás" (Pedro Nava)

01. Em tempos de apagões, racionamentos e sobretaxas, a frase do memorialista mineiro, falecido ainda nos anos 80, merece algumas reflexões até para entender melhor o momento incomum que atravessamos, mercê do descompasso entre o que diz e o que faz (ou o que não faz) o governo…

02. Digamos que os eleitores, em 98, foram induzidos a reeleger FHC presidente pela estabilização da Economia que teve como metas primeiras, àquela época, o fim da inflação e a paridade dólar e real. Por mais que algumas vozes dissonantes insistissem em alertar da falácia de tais conquistas, soaram mais alto os clarins oficiais da persuasão. Em alto e bom som, com a cumplicidade de poderosos veículos de comunicação, anunciaram a inclusão do País entre as potências globalizadas, integrado à era moderna, com um pé lá, no almejado primeiro mundo…

03. Era a própria imagem do novo Brasil o presidente sempre em viagens internacionais a discursar em seminários, a sorrir visitas protocolares às grandes nações, a se fazer de comensal dos grandes líderes da política internacional. Vê-lo na TV a dizer das conquistas feitas (conquistas, é bem verdade, que não chegavam ao grosso da população; mas que ele anunciava com toda pompa e circunstância) e do que ainda estava projetado a fazer passava uma certeza de que tínhamos o homem certo para o lugar exato. Nada mais justo do que deixá-lo mais quatro anos no Poder…

04. Era o que a voz da experiência determinava… Invocou-se até uma velho jargão futebolístico (Em time que está ganhando, não se mexe.) para sacramentar o tucanato por mais quatro anos. Apesar de que, acho importante essa observação, a "belezura" anunciada não chegava até nós e, cá com nossos botões, amealhávamos muitos pontos de discordâncias e outro sem número de suspeitas…

05. Mesmo assim quisemos pagar para ver. O governo, por sua vez, repetiu a estratégia. Continuou com discurso nas alturas, jogando pesado para abafar crises e CPIs. A versão oficial dos fatos — via TV, rádio e jornais — sempre foi mais importante que o fato em si. Os arautos de Brasília são eficientes, não deixam pedra-sobre-pedra quando se trata de defender o Governo.

06. Só não contavam com a crise de energia — e a ameaça de racionamento, apagão. Aí a casa caiu e, mesmo à meia-luz, revelou-se a fraqueza do governo, que nada planejou senão alianças que o ajudaria a perpetuar-se no Poder. Fui pego de surpresa — defendeu-se o presidente-sociólogo, como a se isentar de culpa. Mas, não convenceu. Tentou mostrar autoridade, clamou pela colaboração do povo, mas seus homens-de-confiança fizeram o que sabem fazer: um grande confusão. Baixaram medidas provisórias e criaram uma sobretaxa para abocanhar outra parte do nosso suado e mirrado salário…