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Estágio e mercado de trabalho

Outra do meu baú virtual.
Uma entrevista que respondi a um internauta, estudante de jornalismo, e que disponibilizo a quem possa interessar.
Boa leitura!

1 – Como está o mercado de trabalho na área de comunicação?

R – A impressão é de que está receptivo aos novos jornalistas. Ao menos, não há semana em que, aqui na Metodista, não assino entre doze e vinte contratos de estágios para os estudantes. Óbvio que não ainda não chegamos ao ‘estágio ideal’, e nem sei se chegaremos tão cedo. Mas, pelo que acompanho como coordenador do curso de Jornalismo, as frentes de trabalho se abrem todos os dias, e nos diversos segmentos da sociedade. Claro que o salário está longe de ser o ideal; varia entre 500 e 700 (uma boa parcela deles, diria que a maioria) a 900 e 1.200, digamos que é a faixa nobre e rara.

Importante destacar dois pontos: a) a mudança do perfil das vagas oferecidas e, portanto, a mudança das funções do jornalista b) o uso, muitas vezes, do expediente ‘estágio’ para mascarar a cooptação de mão de obra barata. No primeiro quesito, está clara a alta incidência de alunos de Jornalismo nos departamentos de comunicação das empresas, instituições, ongs, associações e clubes de serviço, com ênfase no trabalho de assessoria. No segundo item, tem se aproveitamento dessa mão de obra para funções outras que não as estritamente relacionadas a área específica, jornalística ou comunicacional – telemarketing, recepcionista, vendas em geral. Aí a nossa atenção, na Metodista, para brecar esse tipo de usurpação trabalhista.

2 – O que uma pessoa que está saindo hoje da faculdade tem que ter para conseguir uma boa colocação?

R – As opções são absolutamente pessoais, até porque os caminhos são os mais abertos possíveis e imagináveis. Temos alunos trabalhando em revista de trator, revista para bebês, assessorias de todos os portes e calibres, prefeituras, jornais diários, TV aberta ou por assinatura. Fundamentalmente, precisa se mostrar capaz de enfrentar as tarefas do dia-a-dia, com discernimento e muita vontade. Ter noção que se começa pelas funções mais áridas numa redação e aí, a partir do interesse e da aptidão demonstrados, vai se conquistando um bom espaço. Aliás, tenho dito em sala de aula que o grande desafio dos novos jornalistas hoje é inventar o próprio espaço. Ou seja, exemplificando, se você quiser ser jornalista esportiva e trabalhar com futebol terá uma concorrência descomunal pela frente. Seja no mercado, seja na própria editoria. Já se quiser se especializar em outros esportes, não tão badalados, você vai ter chance de aparecer mais rapidamente. Desde que mostre interesse, competência e algum diferencial.

3 – Qual a importância do estágio?

R – Importante, sim, porque vai lhe dar um conhecimento ajustado da realidade em que você pretende atuar. Por melhor que seja a universidade, por mais equipado que seja o curso, por mais que tenhamos veículos laboratoriais, o cotidiano de uma redação – os jogos de interesse da notícia e dos nossos próprios pares – só se verifica ali. Os estudantes da Metodista que cumprem estágio no Diário do Grande ABC puderam acompanhar, tempos atrás, as mudanças que aconteceram na direção do jornal e da empresa ao longo de meses. Como se comportam os jornalistas, o clima tenso, como se configura a mudança na elaboração do jornal etc – por mais que um professor em sala de aula narrasse esses acontecimentos em um case, seguramente não teriam o mesmo peso.

4 – E o estágio voluntário têm a mesma importância de um remunerado?

R – Estágio voluntário, você deve fazer na universidade ou para fins sociais em entidades sem fins lucrativos e de benemerência. Para quem está chegando à universidade, ficar mais tempo no campus com uma proposta de aprendizado é bem interessante. Às vezes, o estágio voluntário com acompanhamento de professores pode ser de mais valia, sim. Ano passado, um grupo de alunos, supervisionados pela professora Margarete Pedro Vieira, fez o livro comemorativo dos dez anos do Grito dos Excluídos. Foi inegavelmente uma experiência enriquecedora para uma causa nobre.

5 – Na hora de procurar um emprego é imprescindível ter feito estágio?

R – Não. É imprescindível dominar as técnicas do veículo em que for trabalhar, estar atualizado e sobretudo mostrar interesse.

6 – Se uma pessoa não consegue um estágio remunerado compensa fazer um voluntário?

R – Especialmente na universidade, sim. O aluno ganha mais conhecimento, vivencia o que está estudando em sala de aula. Tem professores supervisionando, tem alunos dos últimos anos com quem troca experiência. Só tem a aprender e, portanto, a ganhar.

7 – Qual a importância dos estagiários voluntários pra Universidade?

R – O grande desafio da Universidade é dar estrutura para que esse estágio voluntário se realize da melhor maneira possível. Todos ganham com isso.

8 – E fora da Universidade, as empresas podem contratar estagiários voluntários?

R – Se houver uma proposta social em empresa sem fins lucrativos, ok. Caso contrário, é um aviltamento do mercado. Porque quando o aluno se forma e quiser um espaço nesta empresa, será sumariamente dispensado em favor de outro escraviario.

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