Por essa época, era inevitável que me escalassem para escrever sobre a tal mensagem de Natal e Fim de Ano. Desde os anos 70 e 80, as redações vivem um acelerado processo de mecanização, onde as chamadas técnicas de narrativas jornalísticas se sobrepõem as autorais. Os manuais são mais importantes que o estilo. Tudo em nome da objetividade, da clareza e da concisão. Cada vez mais, nós – repórteres, redatores e editores – procuramos intermediar o fato e quem o lê de forma insípida, inodora e incolor.
O leitor o que melhor lhe aprouver com a informação.
Este parece ser o grande desafio das redações – sejam quais forem, de rádio, TV, impresso ou on-line.
Claro que há quem fuja à regra – mas, non troppo: os editoriais, as colunas, a crítica, o comentário. Mesmo assim, todo esse lesco-lesco obrigatoriamente vem embasado em provas e contra-provas, contextualização, analogias históricas e análises de especialistas.
A crônica é o único lugar onde a emoção é possível. Mesmo assim, os verdadeiros ‘diaristas’ andam em franca extinção. Salvo Luiz Fernando Veríssimo, não há mais aquela prosa ‘puxa-puxa’ que tanto caracterizou os escritos de Rubem Braga, o maior de todos. De Diaféria, Drewnek, Plínio Marcos…
Mas isso eu escrevi aqui outro dia…
Como nunca tive eira, nem beira e pertenço à velha guarda – mesmo nas reportagens, não raras vezes lá estou eu a dar pitacos e fazer observações –, era inevitável a convocação. Que, de resto, eu tirava do jeito que podia.
Às vezes, até elogios eu ouvi…
Houve um ano, porém, que eu travei. Acho que foi em 77.
Não consegui alinhavar uma linha que fosse sobre o natalino tema.
O amigo Clóvis Naconecy veio em meu socorro. Também não se deu lá muito bem no arranjar de letrinhas. Tudo lhe parecia óbvio demais.
Desistiu.
Foi a vez de outro voluntário e amigo. Ismael Fernandes, colunista de TV e noveleiro de primeira. A princípio, era garantia de um bom roteiro. Em 20 minutos tinha o texto pronto, mas que não convenceu nem ao próprio IF. Os sinos ‘bimbalhavam” demais na “noite feliz” em que a “estrela guia” nos levava até o “Menino Deus”.
O próprio Ismael fez picadinho das laudas, após lê-las em voz alta.
Não restou outra alternativa, então. Humildemente, fomos até o Departamento de Artes que, sob a batuta do Naconecy, inventou uma árvore de Natal em que os enfeites eram o símbolo do próprio jornal.
Assim preenchemos o espaço que estava reservado à mensagem. Acrescentamos, sem pudores, um Feliz Natal e Próspero Ano Novo.
E não se falou mais no assunto…
[Texto publicado no livro "Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões"]