Não sei se já disse aqui o que agora vou dizer.
Se disse, repito.
Se não disse, explico logo.
Evito escrever sobre futebol como ontem fiz.
Por um simples motivo.
Quando começo, tomo gosto e me estendo por dias a fio.
Levo certo tempo para mudar de assunto.
Vocês já imaginam sobre o que hoje escreverei.
Futebol, lógico.
Quero dar meus pitacos sobre três ilustres personagens do tal Planeta Bola.
Diria que estão na ordem do dia.
O primeiro deles é o técnico Carlos Alberto Parreira.
No domingo, com toda sua história e finesse, ele foi expulso de campo no Fla-Flu e viu seu time ser derrotado implacavelmente pelo Mengão de Cuca.
Respeito muito a história de Parreira. Ele disputou sete ou oito ao longo da carreira e reconheço sua projeção no cenário internacional. É um profundo conhecedor do assunto, um estudioso que tem renome inabalável dentro da própria FIFA.
Mas, desconfio que, técnico-técnico, ele não é mais.
Eu o vejo como alguém preparado para além da profissão, como hoje nós a entendemos por aqui. Sujeita às chuvas e trovoadas dos resultados. Diria que todo o conhecimento e competência de Parreira seriam mais bem aproveitados num patamar acima, em um cargo de gestão para algum clube de expressão, com um projeto de administração mais contemporâneo. Não sei o Flu tem esse perfil.
Aliás, outra função que lhe cairia como uma luva é a de diretor de seleções na CBF. Um cara a quem à jovem comissão técnica poderia recorrer nas horas incertas. Uma experiência que, diga-se de passagem, falta a Dunga, Jorginho e afins.
Outro nome que está nas manchetes, de uma forma diferente da habitual, é o goleirão Rogério Ceni. Quando soube da grave contusão de ontem – fratura do tornozelo esquerdo, com prazo de recuperação de quatro a seis meses – lembrei-me de um médico chileno a me dizer a frase que nunca esqueci:
— Quando você não para, é a vida que para você.
Eu estava com uma contratura lombar – a chamada Senhora Dor nas Costas – e mesmo assim insisti em viajar. Não deu outra. Fiquei três dias no hospital, onde encontrei o tal doutor, estatelado num leito, travado, sem poder levantar.
Ceni é um perfeccionista. Um atleta dedicado que pode ter virado o fio na ânsia de novas conquistas – que, diga-se, nunca lhe escaparam.
O São Paulo vai sentir sua falta.
O terceiro personagem é o avante Adriano.
Não é que depois de anos e anos de estrada, o menino triste encontra finalmente a felicidade – ou o caminho que o leva a… – na humilde comunidade, onde partiu, jovem ainda, para ganhar o mundo.
Sei que, para nós, os guardiões do politicamente correto, da sensatez, e de outras tantas convenções, é inconcebível abrir mão de uma renda de 400 mil euros mensais, de morar em Milão, de abrir mão de uma Copa do Mundo, de querer mais e mais…
Mas, meus chegados, lembrem-se dos versos daquela canção:
— Ser feliz é tudo o que se quer.
Por tudo o que já viveu, Adriano parece estar sendo honesto com ele mesmo. Redescobriu a Vila Cruzeiro, onde, no seu entender, hoje mora essa tal felicidade.
Amanhã ele pode se arrepender, mudar de idéia, voltar a jogar futebol.
E querem saber?
Não temos nada a ver com isso.
Vida que segue…
Foto: Jô Rabelo